domingo, 10 de fevereiro de 2013

Um lugar no mar



A praia estava linda hoje, bem do jeito que eu gosto. O céu não podia dizer que estava cinza, se sua cara fechada tinha cor de azul quase marinho, foi um dia que nem pareceu dia de tão escuro que fez. Do sol, símbolo de alegria, não vi nenhum sinal. A areia estava tão fininha que parecia fazer carinho nos meus pés. Tinha muita gente, mas eu optei por não ver nada além de dentro de mim mesma. A água fria, não estava tão convidativa, embora as ondas quebrassem fracas e sem vontade. E toda vez que eu paro ali, esperando as ondas me encontrarem, o meu fascínio é sempre imensurável. Algo no horizonte e na imensidão das águas me chama, como se de alguma forma eu pudesse entrar mar a dentro e lá no fundo estivesse uma outra vida me esperando, com peixes falantes, um lugar civilizado, organizado, encantado, longe de tudo que me faz mal. E quanto mais eu olho para aquela linha que divide o céu do mar, mais vontade eu sinto de entrar cada vez mais fundo, cada vez mais longe, onde as ondas já não me alcancem e os pés não sintam a areia. Tantos dias já se passaram, o sol nasceu e se pôs sem parar, o mundo não fez uma pausa para esperar eu me recuperar. Sigo querendo fugir, me esconder da vida la fora, das obrigações, do dever de ser forte, dos relacionamentos voláteis, dos sentimentos rasos, das vontades levianas, das cobranças sem moral, da necessidade de pertencer ao mercado de trabalho, de ter o poder de consumo, de adquirir bens materiais móveis e imóveis, de acumular conhecimento, de construir um futuro sólido e melhor que hoje. Queria não precisar de nada disso, queria não ser cobrada por isso. Talvez seja esta a razão do mar tanto me tentar: quem sabe lá dentro tenha um cantinho aconchegante, onde eu possa viver em paz.

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