sexta-feira, 14 de março de 2014

Separação

 Acendi um cigarro e fumei lentamente, como num ritual, como que para acalmar a minha dor. Enquanto isso, ele juntava as coisas dele e colocava desajeitadamente numa mala, decidido a ir embora. Eu já tinha gastado demais a minha saliva, tentando convencê-lo a não ir, falando que ainda existia amor e que a gente podia reconstruir nossa vida, que levou anos para ser construída. Essa separação não poderia acontecer e entre os goles de uísque sem gelo, vi minha maquiagem borrar meu rosto inteiro de tantas lágrimas que caiam. Se não fosse um pouquinho de orgulho que ainda existia em mim, eu teria me grudado nos pés dele na vã tentativa de impedi-lo de ir, teria gritado, ameaçado porque eu não podia perder aquele amor. Foi a pior noite da minha vida, a rotina nos desgastou, nos fez cansar um do outro até que o elo se rompeu. Lutamos tanto para construir uma vida ao lado de uma pessoa, é muito tempo que empenhamos nesta tarefa, mas em um breve pulsar, num ato de coragem ou covardia alguém coloca um basta em algo que não nos fazia mais feliz. E parte-se para outra, amanhã é um novo dia e teremos em nossas mãos outras chances de encontrar a felicidade em alguém.