quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Mais do mesmo

Eu estou sofrendo de urgências. Eu quero tudo e quero agora, sem desculpas, sem deixar para depois, é pegar ou largar, o trem está saindo e só há um chance de embarcar. Sair sem destino, sem deixar rastros, sumir no meio da escuridão. Vou buscar o que fazer durante a noite, vendendo meus bens, meus beijos, meu cheiro e não vou cobrar caro por isso. Cada um vai levar um pedacinho do que restou, vou me distribuir, antes que eu rasgue meus pulsos e me vá por completo. Quando ele partiu, a nuvem negra tomou verdadeiramente conta do meu céu. Me perdi na penumbra dos dias, tropecei nos meus cacos, nos meus restos, nas minhas dores e nos meus maiores medos, vivi atormentada se é que posso dizer que vivi. E quando eu olho para aquele rosto, não consigo compreender como foi que ele me enganou. Estava ali, estampado o tempo todo, sendo ridiculamente esfregadas na minha cara todas aquelas más intenções. Tem gente que mascara o que quer, vende uma historinha barata, um conto de fadas meia boca, distribui carinhos para conseguir apenas sexo. Faz todo um teatro para conseguir apenas sexo. Me pegou desprevenida e desarmada, a porta estava aberta e eu pateticamente caí naquela conversinha para fazer a Cinderela abrir as pernas dormir. Eu gostava de verdade daquela figura, ou melhor, gostava de quem eu pensei que ele era, gostava da imagem que ele me vendeu. Nada disso era necessário, eu não faço tipo, só faço o que eu quero. Era só chegar e não precisava nem dizer o que queria, eu saberia só na maneira de me pegar, de me segurar pela nunca e na intensidade dos beijos. As mulheres são muito mais simples do que os homens pensam. Os dias passaram vagarosamente, como uma engrenagem mergulhada na lama espessa, mas o que importa é que passaram. Quando as lágrimas secaram, a porta estava mais que trancada e todas as armas estavam engatilhadas. Expulsei de dentro de mim todo e qualquer vestígio daquele quase amor, fiz questão de esquecer tudo que brevemente senti e o quanto era bom aquele abraço. O que restou, talvez, foi um pouco de amizade, um querer bem, um querer estar perto e eu nunca vou dizer o porquê. Agora aquele rosto não faz meu coração acelerar, não me atinge, não me toca, não mexe comigo: é indiferente. Ele poderia ter sido o único, mas escolheu ser apenas mais um. 

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