quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Último pedido

E aí você luta. Aquela velha luta diária de sempre. Nascemos, crescemos e nesse trajeto temos uma família que nos protege e nos orienta. Educam-nos, alimentam-nos, nos ensinam o que é certo e o que é errado, conforme seus próprios julgamentos. Chegamos na adolescência e tudo que mais sonhamos é com a liberdade, sair da escola e poder trabalhar, ter nosso dinheiro, nossa casa, nossas regras. O inferno maior é quando ouvimos: "Enquanto você estiver debaixo do meu teto, tem que me obedecer". E aí nos fechamos no quarto, escutamos o rock mais pesado e, por vezes, pensamos em fugir ou morrer. Depois vem a faculdade e o gostinho da liberdade. Ficamos presos ao jugo dos estudos e só lutamos para chegar ao fim do semestre sem pendências. Morar longe de casa, mas ainda depender da grana dos pais, trabalhar na universidade por uma mísera bolsa, sobreviver com miojos, xis e cachorro quente, muita festa e cerveja, muita gente pra conhecer. Os anos voam e num piscar de olhos já é a formatura. Que momento alegre! Livres dos trabalhos, das provas, dessa obrigação toda em que nos vimos envolvidos por tanto tempo. Hora de voltar pra casa e descansar. E é nesse momento que a vida adulta bate na nossa cara. A vida alegre passou, é hora de assumir as responsabilidades. Caímos no saturado mercado de trabalho e nem sempre conseguimos algo na nossa área, as portas nem sempre se abrem. Daí surge, do nada, a oportunidade da nossa vida e nosso espírito jovem e aventureiro não pensa duas vezes: abre mão de toda tranquilidade em busca do sonho almejado e o céu é nosso limite. Deslumbramo-nos com a liberdade de morar sozinho, ficamos loucos com as contas para pagar (sozinhos também), a vida é corrida, muito trabalho e quando chega a sexta-feira é só festa... Segunda a gente recomeça, estuda para se aprimorar, aprende a amar o que faz e tornamos nosso trabalho, nossa vida. O salário nos leva para um mundo sem miséria, comemos em bons restaurantes, nos vestimos bem, frequentamos os melhores lugares, praias, festas. E daí pensamos e todos pensam: "Bah, essa guria alcançou o sucesso na vida". Quando achamos que tudo está dando certo, não há como dar errado, o mundo simplesmente vira de cabeça para baixo. A queda é imensa, o tombo dolorido e nem sempre encontramos forças para continuar. O temporal chegou e com a enxurrada foi embora o emprego tão amado, o status, o salário, os bons restaurantes, os planos, os passeios, as viagens, a autonomia. Nos roubam os sonhos, a alegria, a vontade de viver. Os dias passam sem sentido. Como se só isso não fosse ruim o suficiente, o coração que vinha vazio e aproveitando a vida, cai de quatro por alguém que o tratou com carinho. A paixão bateu e com a desilusão, vem a dor, o ódio próprio, as lágrimas sem fim. O dinheiro acaba, a solidão bate, nos sentimos como ratinhos acuados sem saber para onde correr. Será isso o que chamam de fundo do poço? Quem disse que crescer era bom? Quando essa nuvem negra vai passar? Será que conseguimos suportar tamanho fracasso? Como recomeçar? 

Daria tudo para voltar a ser criança.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Silêncio




"Ficamos sentados em silêncio, contemplando o mundo à nossa volta. Levamos uma vida inteira para aprender isso. Parece que somente os velhos conseguem ficar sentados desse jeito, um ao lado do outro sem nada dizer, e ainda assim se sentirem contentes. Os jovens, irrequietos e impacientes, têm sempre de quebrar o silêncio. É um desperdício, porque o silêncio é puro. O silêncio é sagrado. Ele aproxima as pessoas, porque só quem se sente confortável ao lado de outra pessoa pode ficar sentado sem falar. Esse é o grande paradoxo."

(Nicholas Sparks- Diário de uma Paixão)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Armadura e armadilha

E eu aqui, com a cabeça travando meus atos, como se meu corpo estivesse fechado e só quisesse o mesmo vício dos últimos tempos. Eu aqui, me podando, me fechando dentro de um casulo intocável, cavando o buraco mais fundo para me esconder porque eu não quero mais ninguém na minha vida depois daquele golpe que engoli em seco, mas que não pude evitar o tombo. Como a gente faz para abrir o cérebro e tirar de lá de dentro um cara que me amarrou e me jogou do alto de um penhasco e eu não consigo cortar a corda? Prefiro a queda livre que me leva à morte do que essa prisão em que me encontro. Não consigo romper o que me prende neste inferno. Eu não quero e não preciso de conversinhas tolas que não levam à lugar nenhum, eu já entendi tudo. Tudo aconteceu porque eu permiti, por favor alguém me espanque porque eu mereço. Eu mereço um soco tão forte na cabeça pra ver se meu cérebro volta pro lugar, pra ver se eu acordo e não deixo me manipularem, eu que me considero tão inteligente, caí em mais uma teia, em mais um conto de fadas, por carência, por fragilidade, por andar desarmada. Agora ando vestida e armada até os dentes para que ao menor sinal de aproximação eu possa morder e afastar quem possa roubar a minha paz. Em volta do meu coração há uma armadilha, não ouse se aproximar. Maldito seja o dia que eu me encantei pelas mentiras, pelas carinhas de santo, pelo jeito tão diferente de ser, mas que na verdade era igual à todos os outros canalhas. Eu insisto em acreditar, mesmo sabendo que o final vai ser sempre triste para mim. Agora chega. Basta desses sonhos românticos e sem sentido, basta de ser enganada, agora quem vai enganar sou eu, quem vai manipular sou eu, quem vai dilacerar corações por aí sou eu porque eu não tenho mais sentimentos, eu não tenho mais sonhos, me mataram aos poucos nas quebradas da vida... Agora eu tenho nojo de sentimentalismos, nojo desses romances baratos, nojo de qualquer aproximação sentimental, estou fugindo de tudo isso para me proteger. Agora todos não passam de corpos que podem ou não servirem apenas para me satisfazer. Por trás dessa casca dura e fria, se esconde um coração esmagado e sem vida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Razão de ser

As canções mudaram, o ar é diferente, estou perto de tudo que sempre me deu segurança. Meu corpo ainda rejeita qualquer toque que não seja o dele e ainda arde querendo aqueles beijos que eu aprendi a amar, querendo aquela pele misturada com a minha e clama por alguém que quebre esse maldito encanto. Aos poucos as coisas vão voltando ao normal e é muito bom saber que eu ainda tenho para quem e para onde voltar, caso tudo dê errado. Agora eu concordo com o ditado "o que os olhos não veem, o coração não sente". Eu precisei fugir da presença, ainda que a ausência tenha corroído meus dias como veneno, mas agora eu consigo ver as coisas de uma forma bem mais clara e sem dor. Nem sempre ganhamos, a vitória nunca é certa e a busca ainda não acabou. O que era lindo, foi perdendo a beleza; o que era perfeito, foi mostrando as imperfeições. O que meu coração julgava ser o melhor, com certa luta e relutância, a razão foi mostrando que eu ainda estava além, que não estava à altura do que eu preciso/mereço. Com a nova canção, com esse distanciamento, o que estava escuro ficou claro. A dor da perda me fez crescer, as lágrimas me fizeram amadurecer, a insônia me deixou mais forte. Há males que vêm para bem. E o que restou do que poderia ser um amor lindo, foi um carinho, um querer bem, um desejo de felicidade e até uma certa pena. Pena porque quem não sabe o que procura, não percebe quando encontra. Pena porque quem não tem algo porque lutar, sofre em vão, anda em círculos e sua caminha não vale a pena. E eu pareço ter o dom para atrair quem não sabe o que quer, talvez, justamente, por eu ter objetivos claros e bem definidos e possa ajudar eles à se encontrarem. Esse meu jeito de se doar, de ajudar sem nada querer em troca atrai as almas perdidas, talvez. Essa minha mania de determinação, esse meu jeito guerreiro de ser, de certa forma, deve impulsionar os outros. Vai ver esta é minha razão de ser: orientar, guiar, direcionar, aconselhar. Mesmo que isso cada vez mais quebre meu coração. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Conclusão 2

E de repente me bate aquela vontade de sumir, de colocar uma mochila nas costas e sair sem destino, de fugir dessa vida que não anda, desse marasmo que me incomoda. Você veio e me mostrou um jeito novo de querer as coisas, me lembrou a moça feliz e apaixonada que existe dentro de mim, despertou meu lado romântico e carinhoso e me fez sonhar de novo. Depois você disse que não era isso que queria, desmontou o conto de fadas em que me envolveu, pegou seu jeito singelo de ser e encarar a vida e partiu de encontro à outros braços e eu fiquei aqui, sozinha, sem saber o que fazer com toda esta mudança no meu jeito de ser, você não era nada do que eu pensava. Fiquei no meio de uma bagunça, não consigo encontrar a mulher fria que eu era, que não se envolvia com ninguém, não se apagava, não sonhava, não queria nada com nada. Esse meu jeito de ser me protegia das decepções à que ficamos alheios quando estamos gostando de alguém. Os dias vão passando e eu continuo assim, jogada às traças, querendo ser consumida pelo fim, sem esperanças de dias melhores. Ninguém atrai a minha atenção e tudo que eu queria era alguém legal que te substituísse. Não é qualquer beijo que me contenta, nem ouso me entregar a outros braços porque quando o fiz, foi inevitável a comparação e claro, você era sempre melhor. Virou a minha vida de cabeça para baixo, mesmo sem querer, sem ter esta intenção e nada aconteceu sem que eu permitisse. Permiti, inconscientemente. Me dei sem querer e sem perceber que estava me dando. Abri meu coração sem a minha autorização, é como se um lado meu tivesse me entregado e eu sempre achando que não. A velha vontade de voar me consome e o desejo do fim fica cada vez mais perto. É como se eu não pudesse matar o que sinto sem matar tudo o que sou.

Conclusão

E no meio dessa tarde quente, nessa semana agitada, com o barulho do trânsito, as buzinas lá embaixo, essa bagunça toda que está a minha vida, essa maré ruim, depressão, medo, lembranças e a terrível espera enquanto o tempo passa inexoravelmente, eu cheguei a uma conclusão. Não importa o quanto eu sinta saudade dos nossos momentos juntos, dos risos, dos beijos, das conversas e das madrugadas, dos passeios e dos lugares que conheci com você. Não importa que tua ausência me consuma feito fogo na pólvora e me dilacere a vontade de te ver, de viver tudo outra vez. 

Analisei friamente cada centímetro da sua escolha, cada coisa que você me disse e todas aquelas que está evitando me dizer. Engoli, em seco, a frieza e distanciamento dos últimos dias que tinham de tudo para me cansar, mas meu coração é complacente demais. Tolera todas as idas e vindas, espera com paciência, entende e suporta a ausência, compreende tudo. Mas ele tá começando a pegar nojo de homens bobões, que pagam pau para mulheres em cuja cara está estampada o quão baixas são. 

Eu esquadrinhei cada centímetro daquele rosto, as caras e bocas e minha intuição não erra: o passado a condena, aquela carinha de meiga tem outra por trás e claro que com um bom partido, ela vai se grudar com unhas e dentes. Vai fazer marcação cerrada, colocar o teu nome no mel, apelar para todos os santos para te prender. E eu não sou o tipo de mulher que faz isso, jamais. Sempre te deixei livre para ir e vir, na esperança de que nossa liberdade nos prendesse, na esperança de que, daqui a pouco, a gente gostasse tanto de ficar junto que não quisesse se largar mais, de forma bem natural, porque era isso que eu queria para mim. Só queria coisas boas, coisas leves, alegrias e tranquilidade para nós. Passeios intermináveis, noites longas e dias cheios de sorrisos. 

Ficaram as poltronas do cinema esperando a nossa seção tão programada mas que nunca saiu do plano das ideias. Ficou a minha cozinha esperando o jantar que você ia preparar para nós enquanto eu gravava os CDs com as nossas músicas, conforme te prometi. Ficou a música, quase decorada, para eu cantar para você, como você me pediu. Fiquei te esperando todos esses dias, sendo ignorada por desculpas tolas porque quem quer, faz acontecer, nem que seja às 4 horas da manhã. Fiquei esperando enquanto eu sabia muito bem onde é que você estava e a escolha que tinha feito. 

Mas hoje eu percebi que, no fim das contas, sem modéstia nenhuma, eu era muito  mulher para o teu mundo tão pequeno, que você ainda tá começando a descobrir depois de anos numa prisão. Talvez seja isso que você precisa para chegar à altura de me merecer: crescer, pensar grande, ver o mundo com os olhos que você ainda não tem. Enquanto isso eu sigo sozinha, sem problema nenhum nisso. Sem me importar com as pequenices que você anda fazendo, porque eu sei que, mais cedo ou mais tarde, a tua ficha vai cair e você vai perceber quem eu era e o quanto poderia te fazer feliz.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ligação Perdida


Eis meu estado: meu telefone se encontra no silencioso para calar sua voz e seu grito de arrependimento e o resto? Bem, estou tentando não pensar no assunto. As fotos e cartas e qualquer vestígio seu, estão espalhados pela casa em pedaços, que rasgam e tiram você por completo de mim. Os mesmos pedaços em que eu me encontrava e não serviram em você, estão perdidos nos cantos desta casa vazia. Uma casa tão vazia quanto eu. Tão cansada de ser preenchida e alugada e visitada por todos sem permanência, sem compra, sem alguém que a alugue eternamente. Meus contratos são de curto prazo exatamente para evitar que as pessoas abusem e fiquem por muito tempo e se intitulem donos de toda a minha arquitetura, dos meus móveis, das minhas paredes descascadas e do meu quintal. São meus, entende? Mas quando é que vai aparecer alguém suficientemente capaz de tomar posse de tudo sem me pedir nada? Alguém que me faça querer dar todos os registros e documentos e dizer: “Sinta-se em casa”. Esse alguém poderia ser você, mas você não soube, não foi capaz.

E agora eu estou agarrada ao último fio de esperança e dignidade que restou, eu o mantive firme aqui e não vou soltar. Vou me agarrar aos detalhes para não perder a situação por completo, gosto do controle. Controle esse que você conseguiu tirar das minhas mãos. Bagunçou tudo, me fez perder noites de sono, de paz, me fez perder a direção. E eu comecei a andar em círculos e girar em torno de pensamentos mirabolantes e situações constrangedoras ensaiadas em minha cabeça. Justo eu? Eu não era assim, eu não sou assim. Estúpido, idiota, ridículo. E todas as noites eu pedia para que você caísse fora da minha casa, mesmo você não estando mais aqui. E ordenava que os pensamentos que se formavam com suas imagens em minha cabeça fossem pro inferno, junto com você e seus sentimentos dignos de pena. Você nunca mereceu isso, aliás, você nem sequer merece esse texto, mas é uma forma que encontrei de te calar dentro de mim e em todo o resto.

Você sabe bem que o “resto” a que me refiro são estas 37 ligações perdidas e essas muitas mensagens em que você se humilha, se arrasta e se abre por completo buscando por perdão. Eu lhe disse, querido. Não uma, não duas, mas milhares de vezes que não me deixasse cansar. Que não me deixasse desistir, nem enjoar, mas você simplesmente deixou. Se deixou levar e fez com que eu fizesse o mesmo. Você foi único por um momento, e de repente era mais um. Você foi o bairro mais nobre de toda a cidade que eu inventei pra gente, e de repente se tornou periferia. Você era presente, passado, futuro e todas as bobagens que eu fiz e refiz várias e várias vezes por você. Mas você perdeu, meu bem. Perdeu o rumo, a cabeça e se perdeu. Perdeu os dias de chuva, as canções, os textos, os filmes e todo o melodrama. Foi e voltou. Permaneceu no momento errado. Perdeu o brilho, a cor, o amor. É, você me perdeu. Seja feliz.

http://www.verdadefeminina.com.br/ligacao-perdida/


O culpado



Pronto, já me curei, vou seguir em frente. Foi pensando assim que eu marquei um encontro. A ideia era abrir-se à novas possibilidades, afinal, existem 7 bilhões de pessoas no mundo! Boca vermelha, ouro nas orelhas, perfume caro no pescoço e lá fui eu, tentar de novo, dar uma chance para mim mesma. Mas quando ele me beijou, a comparação começou a martelar na cabeça: o beijo dele era melhor, o toque era mais suave, tinha carinho, sentia o coração pulando, ele era perfumado, cabelo sempre arrumado, palavras doces e o tempo voava. Naquele momento, o tempo não andava, as críticas passavam feito filme na minha cabeça. Nada era bom, nada estava à altura do que eu queria e esperava; eu queria uma revolução, queria me reapaixonar naquele ato e que o passado ficasse de vez no passado. Só que não. Tratei de inventar uma desculpa e fugir dali, como se tivesse cometido um crime, lavei minha boca como se estivesse suja, tomei um banho e esfreguei minha pele com força, como se isso pudesse apagar a minha tentativa falha de seguir em frente. E no retorno, andar por aquelas ruas me fez lembrar daquele que tinha invadido minha vida de fininho, sem nenhuma pretensão e dos momentos maravilhosos e especiais que eu vivi com ele. Já chorei na cama, no trem, no ônibus, no colo de mãe, mas nada alivia, nada cura. Depois de anos me protegendo para não sentir nada, sem me apegar, eu entrei naquele barco certa de que estava imune e de que nada iria me abalar. Só que, em algum ponto, eu perdi o controle. EU perdi o controle! Quando pensava em ficar sem ver ele, logo despistava o pensamento por crer que eu estava fazendo tudo certinho e que não teria como isso acontecer. Mas meu ar de tristeza de agora, minha pose de princesa desmontada, meu olhos com rímel borrado, só evidenciam o quanto me enganei. Minha cabeça roda num turbilhão de perguntas, numa vontade louca de achar nele alguma culpa, só que não encontro. Ele sempre me avisou, sempre deu o sinal amarelo e eu não parei, nem ao menos reduzi. Quero falar mas as palavras vão falhar na frente dele, quero tocar mas não sei mais se posso, quero tudo de volta mas algo me diz que nada será como antes. A dúvida, o medo, a perda mancharam o que era puro e bonito. É como se eu tivesse aos poucos me jogado num mar de lama sem perceber e agora estou presa aqui, no que eu chamaria de fundo do poço ou o mais próximo disso. Não consigo ver a luz, nem uma saída de emergência, nem um braço (ou abraço) que me tire deste breu que eu mesma me atirei. De repente, encontrei o culpado disso tudo na frente do espelho. 

domingo, 6 de janeiro de 2013

Domingo sem cor - Parte II



E a tarde de domingo que tinha tudo para ser alegre e reconfortante, é interrompida pelo imprevisível, atropelada pelo azar e em vez da felicidade, a agonia, a ausência quando há a necessidade física e emocional da presença. Fiquei deitada todo dia, como quem está sendo consumido aos poucos, jogada, feito brinquedo (que sou) porque ele simplesmente não quer estragar mais do já estragou pelo mau uso. Ele não quer mais brincar, embora o brinquedo seja novo e esteja ali, na prateleira do quarto, olhando sedento pra brincar com ele. Cansei dessa vida de novela mexicana, desta depressão que acorda no primeiro gole de café da manhã, desse movimento de criar esperanças e desiludir-se, virar a página, para amanhã criar esperanças de novo e o ciclo recomeçar. Cansei do meu drama particular, de esperar o telefone tocar ou a janela da conversa se abrir quando eu sei, eu sei que ele está online. E daí, quando menos espero, a janela se abre e eu me acalmo, como um viciado que consegue sua droga e fico tensa de novo, porque nunca sei o que está por vir. E de repente as palavras somem, a angústia dá lugar à excitação, estar com ele, mesmo que virtualmente, me anestesia. Como eu poderia definir o que está acontecendo comigo? E quando eu faço a pergunta mais importante da noite, ele sai, sem responder, sem dar boa noite, consciente da questão que fiz. E alguém me perguntaria: como é disputar a atenção de um homem, disputar o coração dele? A verdade é que para amar temos que ser corajosos, amar é dar um passo no escuro, assumir uma relação é se jogar de um precipício sem saber se o para-quedas vai abrir. Eu tenho essa coragem porque não temo finais infelizes, mesmo que eu saia destruída. E meus problemas começam quando homem nenhum hoje em dia está tendo essa coragem. Amar e não poder entregar/viver esse sentimento é desperdício de vida. Para que tanto medo? 

Domingo sem cor



Das ressacas, tive a pior, a ressaca moral. Sem remedinho, repouso ou simpatia pra passar. O telefone de um lado, o orgulho do outro. Um filme da noite passada, sem final feliz. Eu sem você. O mundo me apontando o dedo, como se já não bastasse o meu. Acabou o café, acabou o sono, acabaram as desculpas pra não sair e encarar o mundo. Só que, por sorte, acabou também minha paciência de ouvir lição de moral de quem não tem moral faz tempo. Fiz porque eu quis e faço de novo, quando me der vontade. Foi assim que eu saí pela primeira vez depois do ocorrido, dando a cara a tapa, com meu melhor batom, uma roupa escolhida a dedo e um foda-se na ponta da língua. Não economizei grosseria, tô cansada de poupar pessoas que não se esforçam o mínimo pra me poupar de nada. Anota aí grossa na sua lista de julgamentos, joga na minha cara outro dia, numa próxima oportunidade. Quem não erra? Faça-me o favor, pra que tanta rispidez por eu ser humana? Podia comprar uns pães e usar o saco na minha cabeça, pra me esconder de toda essa falação, mas eu não ia conseguir me esconder de mim, então deixei pra lá. Só continuei ereta e me vesti de deboche. Porque não vale a pena, ninguém tava falando pra me ver feliz, era só pelo prazer de julgar, só queriam o gostinho de me ver na pior e isso eu não podia dar. Voltei pra casa e o telefone continuava me encarando, mas nada de tocar. Tá querendo que eu ligue? Pode desistir. Se ninguém mais se arrependeu nessa história, não seria eu quem iria inaugurar. Não sou de deixar pra lá, porque esse “lá” é sempre algum lugar dentro de mim e as coisas me assombram por anos. E sou impulsiva demais pra fazer o papel de vítima, nunca encarno o personagem e acabo me desculpando por coisas que eu nem fiz, só pelo hábito de ser vilã. Peguei o celular, depois de muita luta, deixei mensagem: “Não sou de cobrar, acho que as coisas tem que acontecer num fluxo natural. O que te cobrei, porque me doía a ponto d’eu atropelar minhas regras, te deixei faltar. Deixei, talvez, porque você me faltou demais e pra preencher teus espaços precisei de mais que textos, músicas e saudade. Se alguém chegou, foi porque você deu espaço. Eu não soube distribuir as vírgulas, porque sou assim, saio atropelando tudo, sem pausa, errei. Ainda tenho moral porque não fiz nada por aventura, fiz por desamor. E quando se trata disso, pra todo erro há uma absolvição. Não sei você, mas eu me perdoei. E me basta, porque de alguma forma absurda e irônica, fui a maior lesada dessa história toda. Mas me perdoei.” E deitei de consciência tranquila. A mensagem tinha sido meu remédio. Não contei pra ninguém essa história, muitos opinam e repassam boatos por aí, mas poucos sabem com detalhes o que realmente aconteceu. Sou muitas e todas elas são exigentes e críticas, então já enlouqueço sem ajuda, não preciso de outros donos da verdade. Não contei porque não interessa. Só vacilei, fiquei mal, encarei minhas consequências, deixei meu desabafo com quem merecia talvez uma breve explicação e dei sequência na vida. Toda ressaca passa, depois a gente procura por outra e por outra. Que também vão passar. Vomitei meu último foda-se e fui dormir, em paz.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Fel



Ela sabe o que ela quer e ela quer agora, sem perder tempo e sem deixar para depois. Chega de sentimentalismos, jogou o coração no lixo e pôs uma pedra brilhante de diamante no lugar, aquela que é indestrutível. Agora ninguém mais vai magoá-la porque ela não tem sentimentos. Fria como um iceberg, intocável como uma divindade, nada mais vai lhe abalar ou amolecer. Não quer mais saber de amor, romantismo, o negócio agora é apenas usar e permitir apenas quem esteja à sua altura usufruir de tudo que ela sabe fazer. O pecado escorre feito veneno e no lugar do sangue, lascívia líquida correndo em suas veias. Os homens não passam de corpos que ela suga a energia como uma vampira, uma sanguessuga sem um pingo de dó. Não se preocupa mais em ser magoada, muito menos em magoar os sentimentos alheios, ela só quer aproveitar o que a vida tem de bom, sem pensar no amanhã, sem dar o telefone, sem se apegar. Dizem que ela foi magoada mais de um milhão de vezes e agora está imune à isso. Os escorpiões e bichos peçonhentos não se atrevem a picá-la porque o veneno dela é fatal. Ela não quer falar do passado, nem do futuro, ela só quer o momento presente porque o amanhã pode não existir. Não se importa com o que os outros vão falar, esqueceu que existe moralismo e a moral é unicamente a que ela decide que é, como e quando quer. Não se entrega para qualquer um: o cara tem que ser muito bom e dotado de muitas qualidades para merecer a atenção dela. Auto-estima nas nuvens, valoriza cada atributo que possui e mantém todos aos seus pés. Vive na noite tomando os melhores coquetéis, dançando como se ninguém a estivesse olhando e se entregando aos melhores deleites, balança, perversa, nada modesta e acorda no outro dia nova e pronta para outra. Ela cansou de sofrer e agora vai viver a vida longe de qualquer decepção. Seus sonhos românticos foram trocados por doses de uísque na noite da cidade grande. Ela não  cansa, intensa e insaciável. Todos sabem que por trás dessa frieza toda existia um coração estraçalhado que à essa altura já virou pó. "Dizem que o seu coração voa mais que avião e que o seu amor só tem gosto de FEL". 

Divagando



A música fica tocando repetidamente e a tristeza parece uma nuvem negra que não passa e fica aqui, nublando a atmosfera, meus dias, meus segundos e ele não me ouve, não responde aos meus chamados e trata a situação como se eu não existisse. Já perdi as contas do quanto de bebida já tomei e de quantos cigarros acendi e apaguei com raiva contra o cinzeiro. Minhas vontade era sair mundo afora gritando a minha dor, buscando uma solução que parece inexistente, porque eu poderia ser o melhor para os dias dele e eu não sei porque as coisas não podem ser do jeito certo, do jeito que me deixaria mais feliz, em que eu pudesse fazer a vida dele mais alegre. As pessoas simplesmente não nos permitem entrar em suas vidas, fecham-se em seus casulos feito lagartas e não deixam ninguém perfurar esta casca de frieza. Fogem feito vampiro da cruz do amor, do apego, de uma relação, de momentos que, para mim, seriam mais coloridos do que quaisquer outros. E eu fico aqui sozinha, dividindo a solidão com outro coração partido por mais um louco que não sabe o que quer, que não sabe o que é o amor, que mentiu descaradamente quando dizia que era pra sempre. Queria rasgar meus pulsos e ficar vendo o sangue jorrar como um chafariz, até não existir mais nenhuma gota dentro de mim, deste mesmo sangue que pulsava forte quando a boca dele tocava a minha. Queria arrancar o meu coração e no lugar colocar uma pedra fria e dura o suficiente para resistir às dores que o mundo nos apresenta todos os dias. Heróis e vilões, todos os dias, ganhando e estraçalhando corações alheios e nos vemos aqui, no fundo do poço porque alguém em 7 bilhões de pessoas que existem no mundo nos fez chorar. A comida não pára no estômago como se quiséssemos vomitar a dor que sentimos; o ar entra curto em nossos pulmões como se não tivéssemos mais forças para respirar. Pegaram nosso coração e o pisaram, cortaram em mil pedacinhos como se o tivessem colocado em uma máquina de moer carne e nem o uísque, nem a cerveja, nem o charuto, nem as lágrimas serão capazes de nos fazer voltar ao estado inicial. Duas mulheres, feito almas penadas e sem vida alguma, jogadas em um sofá sofrendo de dores como a de um doente em fase terminal. Será a morte a solução? Será o tempo? Ou será que daqui à pouco cairemos nos mesmos contos do vigário ou do bilhete premiado? Quanto tempo vai demorar para alguém usar e abusar de nossas emoções e corpos como se fôssemos um brinquedo? Vale a pena lutar contra isso e recomeçar? Mas como recomeçar? De onde tirar as forças, de onde tirar o vigor para nos impulsionar a voltar a viver como pessoas felizes e satisfeitas com a vida que levam? A verdade é que o ser humano não se conforma em viver sozinho, vive numa busca constante de alguém que lhe faça companhia e acaba se contentando com migalhas de momentos agradáveis que deveriam durar a existência toda. Amar é coisa de gente corajosa, como eu, que se entrega sem ter medo de sofrer e sempre sofre no final. Amar é coisa rara, admiro quem tem um amor ao seu lado, quem tem em quem confiar de olhos fechados. Não quero falar mais dessa dor que nos toma conta. Vamos fingir que ela não existe e viver sorrindo, como se o amor existisse para nós.

Intensa




















Eu vou guardar a minha dor num potinho, bem lacrado, assim que eu conseguir arrancá-la do meu peito e toda vez que eu novamente estiver começando a gostar de alguém, lembrar-me-ei daquele gosto amargo que ela deixou nos meus dias, fazendo com que eu desista e nem chegue perto de tentar. Não darei mais chances ao amor porque eu nunca tive finais felizes até agora e meu coração está cansado de acreditar e sofrer. O meu lamento é sempre o mesmo: entrego-me e tudo dá errado. Ou não sou correspondida desde sempre. Ou não consigo gostar de quem gosta de mim. Hoje faz uma semana do último beijo e, às vezes, quando me movimento, seu cheiro passa por mim feito brisa suave, não me deixando esquecer o quanto os nossos momentos eram bons. As nuvens no céu não formam mais corações, apenas a letra inicial do teu nome, que vejo por todos os lados. Estou aqui sozinha e jogada na cama feito uma doente terminal, porque sofro da pior doença: a dor da alma, aquela que não tem cura, não tem remédio nem anestésico que alivie. E de repente, o mundo que eu vinha construindo cai. Os velhos olhos vermelhos se fazem presentes no dia a dia, a solidão entra pela porta da frente sem pedir licença e o dia fica cinza, sem uma luz sequer, sem uma saída de emergência. A canção e os dias ficaram tristes desde que eu me dei de cara com a ausência do amor próprio. Onde foram parar minhas decisões? Por que eu estou tão surpresa com mais uma decepção? Ainda não aprendi a arte de não se apaixonar. Eu não sei ir devagar, eu não sei me entregar aos poucos e sei muito menos não me entregar. Só sei dar o meu melhor, mesmo que ninguém mereça.

Pra ser sincero

Naquela noite, o apartamento parecia mais vazio do que nos dias normais e da janela do terceiro andar ela olhava o bairro pacato e tranquilo ir adormecendo aos poucos, com o olhar tão distante quanto à lua lá no céu. Ela tinha largado o vício, mas dadas as circunstâncias, correu de volta pra ele quando viu que ia chorar. O ano acabara de começar, mas parecia que eram dias frios e sombrios como os dias de agosto, tamanho era o seu desgosto. Quem olhava para ela, sempre com aquele sorriso estampado, passeando no shopping, comendo pipoca no cinema com os amigos, não diria que ela estava triste, mas ela estava. Ela é daquele tipo de pessoa que chamam de extremistas, 8 ou 80, ódio ou amor e ao mesmo tempo é flexível e compreensiva, sempre entende as motivações alheias, sempre olha o contexto e não a situação isolada. Ela sabe que quem está no mundo das drogas lícitas ou ilícitas busca preencher da forma mais errada algum tipo de vazio existencial. Ela tem facilidade para lidar com situações de calamidade, mas quando se trata de problemas pessoais, como falta de amor próprio ou desilusão, ela raramente encontra a solução. O tempo da cura tornou a tristeza normal, mas ela não se cansa de acreditar nas pessoas, sempre dá uma chance para quem aparece e, ingênua, cai na lábia de quem percebe o quão inocente ela é. Não vê maldade, não vê mentira e descomplica as coisas por ser uma pessoa tão prática. Mesmo depois de tantos tombos que ela tratou de esquecer, ela ainda não conseguiu perceber que o amor não existe. Apaixona-se mais fácil do que agradar uma criança com um doce. Entrega seu coração mais que machucado quando alguém a trata de modo diferente da maioria. Considera um encontro minimamente romântico uma raridade, não esquece cada detalhe e o simples desenho de um coração coloca um sorriso no rosto dela. Na verdade, ela só se sente viva se está apaixonada, se acredita que o sentimento é recíproco, se aposta tudo numa relação, se tem a permissão para ter os sonhos mais românticos imagináveis. Joga suas expectativas nas nuvens sem se importar com o tombo e não espera que o outro seja tão intenso quanto ela é, porque sabe que seus sentimentos sempre atingem os extremos em pouco tempo. Ela sabe esperar, compreende o momento do outro, não pressiona, não faz marcação cerrada, deixa ele livre para vir ao seu encontro, quando sentir vontade. E embora ela tenha aprendido tanto sobre o que não se deve fazer com um relacionamento, embora a considerem uma mulher incrível e interessante, ela trata o próprio coração como um brinquedo. Entrega-se de corpo e alma, mesmo que a contrapartida seja mínima. Quando tudo acaba, ela desaba, mais uma vez. Não consegue compreender porque a recíproca não foi verdadeira, não entende o porquê das pessoas fugirem tanto de relacionamentos, não entende quando ela dá tudo e o melhor de si mesma e ainda assim ninguém a compreende e nem se permitem serem amados por ela. Quando o castelo que ela vinha construindo desmorona, é inevitável conter as lágrimas de decepção, embora ela já conheça este gosto amargo, que aprendeu ainda criança. Ela jura não amar nunca mais, jura não se pegar, não se envolver, foge bravamente de qualquer aproximação emocional e se entrega às noites vazias, aos hábitos ilegais, aos comprimidos para dormir porque ela não quer enfrentar os dias que ficam tão longos e sem graça. E então, tudo que ela quer é vingança e sai por aí destruindo corações alheios das formas mais cruéis. Entrega-se a qualquer abraço porque seu corpo tem a necessidade física, o desejo a consumindo. Dorme em qualquer cama e no outro dia vai embora sem deixar rastros. Ela protege seu coração a sete chaves e não acredita em palavras bonitas. Do amor ao ódio, em poucos segundos. Até alguém que aja de forma diferente apareça e o ciclo começa novamente. Ela acredita, mesmo sabendo que vai chorar no final. E dessa vez não foi diferente. Ela achou que poderia cantar a canção “3x4”, mas o que sobrou foi “pra ser sincero”, daquela banda que ela não vai ouvir nunca mais.