segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sem chão

E de repente eu olho à minha volta e percebo que as duas principais pessoas da minha vida; minhas referências; meus portos-seguros; minha base... eles já se foram. É inútil evitar o sentimento de solidão. O medo toma conta porque, se algo der errado, para onde ou para quem eu vou correr? Quem neste mundo seria capaz de me acolher, sem julgamentos ou questionamentos? 

E é neste momento que sinto a vontade de ir embora também. Sinto como se não pudesse viver sem eles, como se nada aqui tivesse mais razão de ser. Pra que lutar pra conquistar coisas melhores se eles não vão poder se orgulhar de mim? Muitas das minhas lutas e vitórias foram mais em razão de lhes encher de orgulho do que por mim mesma.

Olho para esta ausência, esse buraco que se abriu na minha existência, no meu peito, esse vazio que faz doer fisicamente e tento engolir a ideia de me acostumar a viver sem eles. Os sorrisos são amarelos, meu olhar perdido, a mente um turbilhão porque algo me diz que eu não posso parar. Não posso desistir porque de alguma forma eles ainda vão se orgulhar de mim, onde quer que estejam.

Me valho do engano de que eles não iam querer que eu desistisse e aí me lembro que eles eram a razão da minha vida, foi por eles que desisti de pular do sétimo andar com 20 anos, foi por eles que desisti de me jogar na frente de um caminhão ou pular de uma passarela ano passado. Agora eles não estão mais aqui...

Não posso ser egoísta e pensar que ninguém sofreria se eu partisse. Muitas pessoas se importam comigo e muitas delas eu amo também. Só que de uma maneira diferente. O amor que eu tinha pelos meus avós que me criaram era algo próximo da divindade, um amor que só consigo definir como sendo PLENO. E por quem mais nesse mundo eu teria um amor pleno?

Olho para estes parágrafos e encontro tantos pontos de interrogação... e é isso que a morte traz para os que ficam: muitas perguntas, quase todas sem respostas. Até que ponto eu posso suportar tudo isso, até onde conseguirei fingir que está tudo bem? As vezes parece bem, mas é só pensar por 5 minutos que tudo desmorona...

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sobre a dor mais profunda

E de repente aquele coração que sempre te encheu de amor e te deu tudo que precisavas para que tu crescesses feliz, para de bater. Como a chama de uma vela que ainda resta no pavio, mesmo depois de toda cera ter derretido simplesmente se apaga, assim foram os últimos suspiros da pessoa mais importante da minha vida. Ali, já sem consciência, jazia em um leito de sofrimento, mas não sem receber todo o meu amor. E todas as minhas preces foram atendidas: já que o caso era irreversível, que seu sofrimento não fosse longo. Quando vi seu semblante esbranquiçado, perdi o chão embaixo dos meus pés. E agora, pra quem vou correr quando tudo der errado? E pra quem vou contar minhas alegrias, pra encher de orgulho? Mas por mais sozinha que eu me sinta, nosso elo é forte demais para ser quebrado pela distância física. A morte nunca será capaz de nos afastar, pois ela está em mim, no meu DNA, no meu inconsciente, na minha personalidade, está em quem eu sou, em quem eu me tornei e em quem eu quero ser a partir de agora. Para sempre em mim, para sempre comigo.

sábado, 17 de outubro de 2015

Game

Vejo tudo com falhas, esse sangue que não para, não, é meu batom vermelho borrado depois das bocas que beijei esta noite. O álcool faz minha alma sair do corpo e outro ser o domina, fazendo coisas que eu não queria fazer, deitando em camas que não são a minha, ah, mas eu gosto desse poder, de manipular os desejos dos homens, seduzi-los, fazer com que não resistam a mim... esse é meu poder... e sim, tudo que eu faço é porque eu quero fazer, mas não impeça que eu me acabe em uns shots de tequila ouro com muito sal... depois eu vejo só luzes vermelhas, batom vermelho borrado e sangue... porque este é meu prazer, essa é minha diversão, perder a noção e agir por instinto...

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Despedida

Faltam estrelas no céu pra contar, assim como me falta memória pra lembrar todas as vezes que eu quis partir. Minha força e resistência se assemelham à força de um cristal, que foi se quebrando aos poucos e hoje não há remédio pra consertar todos esses estragos. A dor me surpreende no momento em que, aos olhos de todos, eu tenho tudo. E esse é o meu desespero: estar muito melhor que ontem e ainda assim sentir a dor me corroendo como ácido, apagando meu brilho, destruindo minhas esperanças e aos poucos me levando pra longe. Como um anjo negro, cujos olhos me paralisam, sinto a morte me chamar e meu desejo por esse encontro aumentar a cada segundo. Ah, se alguém fosse capaz de entender essa força que me esmaga feito inseto! Se ao menos as pessoas pudessem olhar e compreender, sem questionar, sem falar, só abraçar e não pensar que é frescura, que eu preciso de calma, que vai passar... essa dor, esse medo, essa fraqueza fazem parte de mim desde sempre. Eu é que luto segundo a segundo para não sucumbir. Mas agora estou cansada, estou entregando os pontos, estou me deixando levar por essa sedução maligna... minhas forças acabaram... nada mais me prende aqui, a não ser aqueles que me amam porque se eu for, minha dor acaba, mas a deles será imensurável... Até o dia em que cada um conseguir retomar suas vidas e eu serei só uma lembrança.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Carta para quem desistiu

Quatro horas da manhã quando os vizinhos escutaram um som indecifrável e inimaginável: o som do que restou dela ao sofrer o impacto contra o chão. Naquela noite ela tomou a decisão mais difícil, mas nada importava mais. Deixou tudo para trás e decidiu voar para o fim de todas as suas dores, abriu os braços e imaginou-se como um pássaro que se prepara para dar um rasante... jogando-se ao abismo, desistindo de tudo e saltando do décimo andar. Levou consigo seus planos inacabados, seus sonhos não realizados, as gargalhadas que ainda daria e as lágrimas de felicidade que choraria ao longo dos anos, até seu último suspiro natural. Enterrou consigo todos os seus medos, decepções, dores e angústias que naquela noite gritaram ardentemente em seus ouvidos, a obrigando a desistir. Linda, eu entendo você e não lhe julgo, eu mesma quase desisti e lamento por você não ter conseguido resistir mais um pouco, não ter cruzado em seu caminho com um médico e o tratamento certo, com um pingo de esperança, uma porta aberta ou um abraço acolhedor naquela noite. Não se deixe levar pela lembrança do que poderia ter vivido, descanse agora, sua dor chegou ao fim.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sobre o incurável

Um dia cinza e frio, uma tristeza, uma xícara de café e o pensamento há milhares de quilômetros daqui. Por vezes, o pensamento voa para milhares de dias que já vivi e eis aqui o imutável e a causa do meu desconsolo: a impossibilidade de viver novamente certos momentos que de tão marcantes e intensos, se tornaram inesquecíveis. Nove anos já se passaram, mas as vezes parece que foi ontem e temo pelo dia em que vou pensar "50 anos já se passaram, mas parece que foi ontem". Alguma coisa em mim não consegue acreditar que aquela história simplesmente acabou, como qualquer outra e que eu nunca mais vou olhar para aqueles olhos intrigantes, aquele cabelo arredio e aquele sorriso envolvente. E exclamo e grito: como eu queria me convencer que acabou! Mas não... em algum lugar do meu coração existe uma pequena (mas forte) esperança de que um dia, talvez com 70 anos, poderei mirar aqueles olhos novamente e ver o menino que eu amei, que me fez conhecer o amor e a dor, na mesma intensidade. A única coisa que o tempo foi capaz de apagar foram as mágoas... nem lembro das palavras rudes, das discussões severas, das procuras por puro interesse, das vezes que o mundo dizia que ele "estava me usando"... Estes anos todos passaram e quando penso nele só sei desejar coisas boas, felicidade, amor, alegrias e que ele tenha uma vida tranquila e duradoura, diferente de outros tempos em que eu só conseguia desejar que ele chorasse todas as lágrimas que um dia derramei. Naquele tempo, éramos tão jovens, de humor volátil, explosivo e extremamente imaturos, eu não sabia amar, muito menos ele. Do mundo pouco sabíamos, tão pouco do amor. Hoje temos vidas tão diferentes, realidades distantes e o meu lamento não é por não te-lo hoje. Minha dor é por saber que aquele cara que eu amei não existe mais.

Sobre culpa e lamentos

Quando penso em teus olhos azuis, só sei lamentar. Lamento muito por não ter te amado como tu merecias, não ter aceitado teu amor em plenitude. Lamento por não ter sido boa para você, carinhosa, atenciosa, fiel. A verdade é que nossa relação foi um erro, meu coração pertencia a outra pessoa e mesmo assim te envolvi na minha confusão, numa ânsia vã de substituir um amor, por outro. Tu nunca mereceste este meu falso amor. Te usei, para me favorecer, um sentimento egoísta e repugnante e tu, em meio à carência e solidão, imaturidade, ingenuidade, não foi capaz de ver o quão nociva eu estava sendo. Vivemos momentos felizes, compartilhamos anos de nossas vidas, tu esteves presente em tantas coisas que vivi e hoje, quando olho para estes quatro anos, vejo uma sombra e minha alma negra, poluída e má. Então, quando te vi sorrindo naquela foto hoje, ainda não sei explicar a razão da dor em meu coração. Um misto de culpa, uma vontade de te pedir perdão por tudo que eu não fui para ti e pelas coisas horríveis que fiz e que tu não sabes. Senti um desejo profundo de que que tu encontres uma mulher de valor, que dê todo o amor que tu mereces porque eu sei que tu és capaz de amar de uma forma verdadeira, pura e sincera. Mas eu sei que por trás daquele sorriso, mora a solidão. Teu nome é solidão, ela me parece ser tua companheira desde sempre. Enfim, não há nada mais que eu possa dizer além disso... que lamento, que preciso do teu perdão, que só te desejo coisas boas e que a vida te devolva todo o amor que tu me dedicastes... 

domingo, 12 de julho de 2015

Meu conto de fadas roubado

E então o príncipe solitário, tão inteligente, tão doce, puro e inocente, com ares de menino, daqueles que a gente não consegue imaginar nem sequer beijando alguém, eis que este príncipe se descobre homem e supreende a todos quando conquista o coração de uma jovem princesa, tão meiga, doce, delicada, pura, pequena, de aparência frágil, tão à altura dele, num encaixe perfeito, formando um par que transpira divindade. E na tarde fria de um sábado do mês de junho, eles se casam num evento com sabor de contos de fadas, tão lindo e digno de perfeição. E eu? E por que não eu? Por mais que meu coração esteja aparentemente bem resolvido, nunca senti tanta dor ao olhar para meu rosto no espelho, olhar para um passado sombrio e perceber claramente os motivos por que não eu. Minha índole se assemelha à de uma prostituta perto daqueles dois. Eu estava no mesmo caminho que eles, caminho de retidão e santidade e por impaciência desisti, fui buscar o amor por mim mesma e só encontrei lama ou algo parecido com chorume. Manchei vulgarmente a minha reputação e lógico, quando cruzei com ele, ainda que eu tentasse chegar a seus pés, jamais estaria à altura dele e novamente desisti. Esse casal é o retrato vivo de um futuro que me foi prometido no passado, um futuro que eu sonhei pra mim no passado e que troquei por meia dúzia de migalhas de amor, na ânsia de ser amada. O que tenho hoje talvez seja além do que eu mereça, mas o que vivo é infinitamente inferior ao que eles tem e construiram juntos. Ele é só dela, nunca foi de mais ninguém; ela é só dele, nunca foi de mais ninguém, nunca antes tocada, imaculada. Eu fui de muitos, meu par foi de muitas e a sobra desses passados é a nuvem negra dos meus dias.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Eu quero silêncio



Entra, fecha a porta e não diz uma palavra. Hoje eu não quero conversar, quero acender estas velas para o ambiente ficar à meia luz, quero aquela canção tocando, tomar um banho quente e me aninhar na cama ou no sofá. Não esquece de trancar a porta, não ligar a TV e desligar o celular porque minha única intenção é esquecer o mundo lá fora. Quero, por um segundo que seja, acreditar que está tudo bem, que tudo está em paz e que estarmos juntos não é errado. Vou preparar um drinque, acender meu cigarro e fumar lentamente, para curtir a leveza que só a nicotina dá. E se eu enlouquecer, gritar e chorar inconsolavelmente, por favor não me julgue: tudo que eu não preciso são julgamentos, porque eu sei que quando eu sair lá fora o mundo inteiro vai me julgar por estar aqui com você. Meu mundo está desabando, me sinto como um animal preso em uma jaula, entendiado, desesperado, capaz de qualquer loucura para fugir. Hoje eu não quero sol porque aqui dentro jaz a escuridão, não quero músicas alegres porque aqui dentro sobram lamentos, indecisão, medo, vontade de sumir. Embora o clima esteja propício, não espere de mim beijos ou sexo, teu abraço me basta, teu silêncio vai me satisfazer, ouvir teu coração bater embalado por Pink Floyd vai acalmar meu pranto.E quando eu sentir algum alívio, vou te agradecer e, mesmo que de forma egoísta, vou embora, pois certamente já terei encontrado em ti a força que eu preciso para tentar melhorar meus dias.

Fugir



Os dias estavam calmos demais, uma calmaria digna de desconfiança, daquelas que a gente sente medo porque é quase como pressentir que algo ruim vai acontecer. Foi quando uma tsunami de lama negra, lixo, chorume e vermes invadiu aquele dia cinza e quase alegre. Fui obrigada a acordar do meu pequeno conto de fadas, as máscaras caíram e vi o rosto das pessoas que me cercam, rostos de monstros, de lobos famintos prontos para atacar e despedaçar minha carne ingênua e que achava que todo mundo era legal. E descobri que no ambiente em que passo mais de oito horas do meu dia tudo que você falar será usado contra você; descobri que as pessoas podem ser infinitamente piores do que você possa imaginar. Primeiro veio a raiva, me vi incrédula, por não compreender como as pessoas podem ser tão maldosas, coisa que eu nunca consegui ser, nem que eu quisesse. E então eu só queria fugir, correr sem parar mesmo que eu não soubesse pra onde estava indo, rezei por um milagre, por alguma alma encantada que me raptasse e levasse pra bem longe... fechei meus olhos e só pedi um milagre. 

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mais algumas dúvidas

Qual a linha tênue que divide se eu fico ou se vou embora? Afinal de contas, o que me prende dentro dessas paredes, dentro dessa relação que por vezes é tudo e em outros momentos só me causa dor e infelicidade? Para que lado a balança está pesando agora? Estar aqui e nisso aqui me dá mais alegrias ou dores? Quanta falta faz o doce sabor do vento no rosto enquanto batia asas livremente? Quanto não faz falta as noites sozinha, em que a solidão e o medo me obrigavam a fazer do som da TV minha companhia? Quanta dor me causa o peso do machismo ou quanto prazer me dá fazer as coisas para agradar? No espelho é que não me encontro. Talvez eu tenha me reinventado como uma mulher tradicional e recatada a fim de me adequar melhor aos dias de hoje, criando um paradoxo diante da mulher que eu era outrora. Sinto como se em algum momento eu vá explodir, rompendo essa couraça de boa moça e o monstro promíscuo e sem amor a vida vai ressurgir. Quem eu quero ser? Qual delas me dá mais prazer? Correr riscos ou viver uma rotina tranquila e previsível? Dúvidas que me consomem, me corroem e enlouquecem.

Sem palavras

Ótimo que tu tenhas planos que não me incluem, que tu vais correr atrás dos teus sonhos e adquirir todas as coisas que tu quiseres, ótimo que teus planos levantam tua auto estima que sempre esteve alta, a ponto de tu colocares uma música de festa, de agito, de lugares abarrotados de mulheres bonitas enquanto eu fico aqui, como o cão abandonado, tentando melar teus planos que vão acabar com as nossas noites juntos, que vão me colocar na rua pra mendigar atenção de outros porque eu não vou ficar em casa bancando a boa moça enquanto tu te diverte na rua e coloca empecilhos pra não me levar junto. Sim, ao mesmo tempo que tu queres ganhar dinheiro, quer sim fazer coisas sozinho, como se a nossa vidinha medíocre já tivesse te enchido o saco e agora tu só quer fazer outras coisas, sem a minha companhia. E como esperar algo diferente de alguém que só quer minha companhia quando estou de bom humor, se quando estou irritada de dor inventa uma desculpa pra ir ouvir música e ficar olhando facebooks alheios. E o que pensar de uma relação cheia de altos de baixos, em que eu nem sei mais os motivos que me mantém aqui?

Dia-a-dia

Pula da cama às 6:16, 15 minutos no banheiro entre atualizações do celular, escovar os dentes e arrumar o cabelo, tenta acordar ele pela primeira vez, arruma os lanches, passa o café dele, arruma o pão dele, tenta acordar ele pela segunda vez, se veste (sempre a primeira e mais confortável roupa que vê), calça o tênis ou uma sapatilha surrada, arruma a bolsa, confere se está tudo lá, apressa ele que levantou tarde demais, entra no carro, ele a leva até o trem. Cinco minutos de carro entre esquentar o motor, desembaçar os vidros, abrir e fechar o portão já que o controle está em cacos e depois chegar na estação de trem, mais dezessete minutos até a estação destino, desce correndo a plataforma e embarca no ônibus, mais uns dez minutos até o trabalho. Bate o ponto, come um sanduíche enquanto caminha para a sala, liga o computador, checa os e-mails, recebe documentos, digita, digita, digita, digita e depois digita mais um pouco, bate o ponto de novo, fica na fila do refeitório, almoça, volta pra sala, checa os e-mails, liga pra ele pra ver se está tudo bem, bate o ponto de novo, digita mais e mais, bebe água, faz um lanche, digita. Bate o ponto, espera o ônibus, sobe a passarela e espera o trem, desce na oitava estação seguinte, espera ele, ele chega e vão ao supermercado, comprar sabonete, desodorante, cebolas, tomates, vão para casa, ela faz uma janta rápida enquanto lava a louça, jantam, tomam banho, assistem um filme ou seriado e antes da meia noite estão dormindo, cansados dessa rotina não tão pesada, mas nem tão leve. E assim as coisas se repetem durante 5 dias da semana e aos sábados pela manhã ela limpa a casa enquanto ele trabalha mais um pouco, de tarde dormem e de noite se reunem com a família, cerveja, risadas, churrasco. Domingo eles passeiam ou dormem e assistem seriados o dia todo, comendo bobagens, até que se dão por conta que vai começar tudo de novo. Descrever já cansa, imagina viver.

sábado, 6 de junho de 2015

Enredo

Há tanto a dizer que eu não sei por onde começar, minha cabeça ferve em meio a medos, incertezas, vontades que não podem ser satisfeitas no momento e essas algemas invisíveis que me prendem, sem estar presa. O que eu quero não posso e o que tenho não me satisfaz. Vivo numa redoma de vidro quebrada, impossível de ser o que um dia foi porque ainda que se cole um vidro, as marcas estarão lá. Então sigo tentando caminhar, com as pernas atoladas em um poço de lama que eu mesma construí, num eterno vai e vem, em um eterno não saber o que querer, pior do que o pássaro que voa livre e solitário, infeliz mesmo acompanhada e com medo de ser mais infeliz se acabar com tudo. E para as minhas perguntas, não existem respostas. E não existe quem possa me dar um conselho. Vou viver esperando um milagre que mude o significado dos meus dias.

Rotina

E o dia começa cedo, o despertador toca e o tempo é cronometrado, tudo previamente pensado, 7:00 o trem, 7:25 o ônibus, não sem antes arrumar a casa, fazer café, preparar o lanche do dia, preparada para enfrentar uma rotina de 8 ou mais horas de trabalho, ainda que no privilégio de estar bem sentada, bom computador, ar condicionado, pilhas de papéis, salário em dia e refeitório no trabalho. Uma rotina 5 dias por semana, sem muita flexibilidade, faltou? Pagou. Se atrasou? Faz hora extra pra compensar. Tudo isso durante o mês inteiro, o ano inteiro, que soma a mais anos até fechar 30 ou mais, para enfim gozar de uma aposentadoria miserável, que vai te obrigar a trabalhar mais tempo, se a saúde permitir. Eu e mais milhares de pessoas no mundo, umas em condições melhores, outras em piores, mas sim, somos nós que fazemos esse mundo girar, essa máquina repleta de diversas engrenagens andar, nunca alcançando a perfeição, mas eu, pelo menos, dando o melhor de mim, para ter uma pequena compensação ao fim do mês, garantindo meu sustento e podendo planejar, ainda que nunca alcance tudo que eu sonhe. Sim, este cenário parece duro e por vezes nem sei como aguento tudo isso, mas o que me move é a gratidão, por pelo menos ainda ter todos esses privilégios, que tão poucos tem!

sábado, 30 de maio de 2015

Sem sentido

E embora milhares de dias tenham passado, sua imagem insiste em aparecer na minha mente quase que todos os dias. Busco explicações para estas lembranças que não deveriam existir, mas não as encontro. Então sigo meus dias monótonos que se resumem em acordar, trabalhar, voltar pra casa, comer, assistir filmes bobos e dormir, sem grandes emoções, sem grandes expectativas, sem sonhos, como se vivesse esperando a morte... desde que você se foi. Era você que dava sentido aos meus dias, era você que fazia a adrenalina correr em minhas veias e fazia com que eu me sentisse viva, vivendo altas emoções, sejam estas boas ou ruins. Hoje eu perco tempo, eu deixo ele passar sem me preocupar se os segundos fazem sentido ou não, enquanto vegeto deitada no sofá ouvindo uma canção triste, enquanto acendo um cigarro e tomo um gole de um conhaque barato. Não, eu não quero nada da vida, nada do que fazer o mínimo necessário para sobreviver, mesmo que me julguem. Hoje eu só quero remédios tarja preta que me façam dormir da noite de sexta até segunda às seis horas da manhã, que é quando eu tenho que voltar para minha rotina medíocre.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Derrotismo



Uma nuvem de algodão no céu
Um balão que sobe, uma mente insana
Ilusões perdidas, sonhos despedaçados
Uma tarde fria, a falta de fome
O sino da igreja badala
O cortejo sobe a pé e silencioso
Eu, indigna da felicidade,
indigna do amor,
uma missão de tristeza a cumprir
O dia hoje acabou antes m
esmo do sol se pôr.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Ele? Incerteza.

Muitos anos se passaram desde aquela noite de carnaval, mas até hoje ela não sabe dizer o que sente em relação a ele. Afirma publicamente que sente amizade, carinho e um desejo profundo de que ele seja sempre feliz, mas admite que não sabe qual seria sua reação se ele subitamente aparecesse em sua frente.Não sabe se o encanto voltaria, mas tem certeza que, ao mirar novamente aqueles olhos que ela tanto amou, abriria um largo sorriso. E talvez esse sorriso decifrasse tudo: um sorriso por ter vencido todas as mágoas que ele lhe causou; um sorriso por todas as lições que ficaram depois que os caminhos deles definitivamente se separaram; um sorriso por ele ter lhe mostrado o amor desde as maiores alegrias até as maiores dores que ele causa; um sorriso por todos os altos e baixos, choros e risos, esperanças e desesperanças, por ter movimentado a vida dela por tantos anos; um sorriso de agradecimento por ele não ter desistido de encontrá-la. E dependendo da canção que toca enquanto escrevo esta reflexão, posso dizer que é amizade pura que ela ainda sente, mas ao trocar a canção, já mudo de ideia, ou seja, ele continua sendo a mesma incerteza que sempre foi.

A adolescência de Anabela

Os dedos dela eram frios na extremidades, as unhas curtas de tanto roer não perdiam o esmalte escuro, mãos pequenas e frágeis, quase sempre ajudando o cabelo e o capuz a esconder o rosto. O mundo dela não era aquele em que ela era obrigada a viver todos os dias, era um ser deslocado, que claramente não pertencia àqueles lugares. O cabelo ruivo natural, a postura encolhida sempre procurando um canto escuro, o fundo da sala de aula, sempre nos bastidores, nunca em evidência. Ela tecia sonhos enquanto o professor falava de álgebra, o corpo franzino escondido atrás das roupas largas dançava em um campo verde e florido, enquanto ela sentava encolhida no banco do metrô. Essa era Anabela, uma adolescente incomum, dotada de uma mente fértil, de sonhos inocentes, tímida, poucos amigos e uma espera infindável pelo príncipe que chegava em todos os contos de fada, para tirá-la daquele esconderijo. Anabela era uma daquelas pessoas que nunca se sentia a vontade perto e outras pessoas, porque detestava ter que sorrir, quando na verdade queria correr. Despia-se do disfarce quando fechava a porta do quarto e ousava dançar um balé, sorrindo, cabelos soltos e roupas despojadas, em meio aos seus discos e livros, estatuetas e poemas grudados na parede. Era especial pela sua singularidade, temia as pessoas como um cão maltratado que ataca, sem conhecer. E o resto da história você já conhece.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Remando

E de repente, em meio ao expediente, eu decido me desconectar do mundo, dos assuntos de trabalho, das conversas fúteis das pessoas, das risadas sem graça porque aqui ninguém sorri de verdade, ninguém ao menos é alguém de verdade, pois o ambiente te exige uma postura e uma conduta de acordo. Então eu me fecho e me recuso a socializar com gente que não me acrescenta, preferindo mil vezes e sem hesitar as canções previamente escolhidas e que tocam, uma a uma, nos fones de ouvido. Se achamos que o mundo evoluiu, que a espécie humana evoluiu, afirmo que foi só aparência. Antes o homem corria livre por um mundo limpo, fugia apenas de feras que poderiam o tornar uma presa. Hoje vivemos mais acuados do que nunca, vivendo a ilusão da liberdade enquanto andamos em carros blindados e casas gradeadas, com um olho à frente e o outro à volta, sempre preparados para correr, não de uma fera, mas de outro ser humano como nós que decide atacar, roubar, machucar. E em meio às loucuras e odores desse mundo louco e frenético, cada vez me recolho mais, talvez à minha insignificância. Quando observo um gesto de amor, é uma grande surpresa, quando deveria ser a regra. Me afasto das pessoas que amo justamente por saber que um dia vou perde-las ou elas vão me perder e para evitar sofrimentos maiores, fico longe, observo, torço pela felicidade delas e rezo. Rezo porque não há salvação diante de olhos humanos e as estatísticas só pioram. E cada dia é uma luta diferente, é a convivência com a incerteza de voltar pra casa e de que as pessoas que eu amo também vão chegar.

terça-feira, 31 de março de 2015

A maior de todas as saudades

E subitamente aquela música começa a tocar nos fones do ouvindo, me teletransportando para um lugar do meu passado e dói, por não poder mais voltar para lá. Eu tinha só 14 anos, pessoas que eu amava ainda estavam vivas, ainda posso sentir o cheiro daquele quarto, sentir a minha inocência e lembrar que mesmo sem ter dado meu primeiro beijo na boca, já tinha um coração doendo. Lembro do rádio toca discos velho, que embalava minhas manhãs e noites e madrugadas insones, sonhando e cheia das incertezas da juventude que eu pensei que desapareceriam com o passar dos anos, mas que só deram lugar a outras incertezas. Lembro da luz do sol nas manhãs de um outono, que iluminava o pátio e as folhas verdes que lá habitavam, quase sinto o sabor dos mates adoçados com açúcar e canela, enquanto bebia com minhas amigas (minhas melhores amigas) e quase convulsionávamos de tanto rir e depois nos dávamos por conta que a razão dos nossos encontros era para estudar. Lembro da capa cor de rosa do livro de biologia, da capa azul do livro de física, da capa verde do livro de matemática, de um pequeno gravador onde gravamos muitas das nossas maiores razões pra sorrir... e me pergunto: onde eu estaria, quem eu seria se eu tivesse feito escolhas diferentes, se eu tivesse ficado ali naquela casa? Por que cargas d'água eu não posso voltar e reviver apenas um daqueles dias, refazendo meus passos, amenizando a saudade de tudo, de cada um desses detalhes tão importantes e encaixotados na minha memória de forma tão nítida, dada a relevância que cada uma dessas histórias tem??? Queria sentar na beira do mar agora e chorar todas as lágrimas que tenho engolido, só mais uma vez, e vomitar toda dor que sinto por não poder voltar para aquele espaço e aquele tempo... 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Os lírios morreram

A chuva caía lá fora dando asas à minha imaginação e deixando meu olhar distante, distante de tudo. Em minha cabeça muitos pensamentos dançavam como uma bailarina na mais linda apresentação de balé já vista. E eu me perguntava quando foi que me perdi de mim e quando foi que me perdi de tantas pessoas que eu gostava... A chuva continuava caindo e os respingos na vidraça por ora pareciam um mapa, capaz de me levar às respostas de todas as perguntas que eu ainda tinha, mesmo após tantos anos terem se passado. Eu ficava sentada naquela cadeira por horas, trancada naquele quarto com todos os meus livros e velhos papéis na minha volta, quase que formando um cobertor de memórias que me aqueciam agora que o vazio deixava tudo tão frio. Foi quando encontrei um velho bilhete em uma folha de caderno, amassado e escondido. Era um bilhete que ele tinha me escrito há dez anos atrás. Lá dizia: "Quantas vezes vou ter que te dizer que não te amo mais? Você precisa entender isso! Não me telefone, nem mande e-mails, a gente não vai mais se ver". Aquelas palavras cortaram minha carne pela milésima vez e cortariam se eu lesse mais mil vezes, caso não tivesse destruído aquele papel com fogo, na vã esperança de que ele queimasse todas as lembranças junto. Senti minha boca entreaberta ao lembrar daquele beijo que jamais teria outra vez e as lágrimas quentes percorrendo caminhos entre as poucas mas já presentes rugas do meu rosto. Como é difícil entender a vida, entender a morte, entender o que sentimos e entender quem não é capaz de retribuir o amor que o outro sente. Dói ver que o tempo matou aos poucos o sentimento mais puro que já existiu dentro de mim, o amor mais verdadeiro que eu poderia ser capaz de sentir... era como os lírios cor de sol que ele me deu quando meu pediu em namoro: plantei, mas por mais que eu cuidasse, por mais carinho que eu tenha lhes dado, eles desistiram de mim e morreram.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A abertura da porta de um caminho louco

Eu me lembro claramente da primeira vez que meus olhos encontram os teus, tão enigmáticos a ponto de despertar em mim uma curiosidade jamais vista sobre a face da terra. Eu me lembro claramente daquele empatia imediata, do sorriso fácil e da atração quem nem era nossa ainda, mas de nossos corpos. Lembro de ter te perdido de vista, de seguir minha noite normalmente até esbarrar em você de novo e, se a vida nos deu essa segunda chance, então não poderíamos desperdiçar. E simplesmente resolvemos não mais resistir àquela atração natural e que parecia fugaz, permitindo que nossos lábios se encostassem pela primeira vez, sem saber a porta de um caminho louco que estávamos abrindo naquele momento. Sabe aquelas cenas de filme em que o cenário fica embaçado e só o casal aparece com nitidez? Então. É assim que nos vejo, naquele primeiro beijo, há anos atrás e luto para não esquecer os detalhes, eu não quero esquecer. Você foi a coisa mais louca que me aconteceu, um sentimento totalmente indefinido, tão enigmático quanto aqueles teus olhos, atrás de lentes e ainda assim encantadores.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Ainda... Anabela

Anabela, tão bela, acende mais um cigarro e o traga vagarosamente enquanto observa as unhas vermelhas meticulosamente pintadas na noite anterior. Não contente com a nicotina, abre a geladeira e serve uma dose de um uísque barato, que foi o que deu para comprar. Duas pedras de gelo, naquele ritual de reflexão que ela faz, embora odeie pensar sobre seus dias, sua rotina e reze para esquecer a cara escrota de alguns clientes. Seu corpo exala um odor fétido de sexo, a cama implora para que os lençóis sejam trocados. Naquele dia foram 7 clientes, o negócio estava crescendo e ela nem lembrava mais o gosto de um beijo apaixonado. Anabela, embora fosse uma puta, quando vista na rua ninguém diria que ela tinha essa profissão. Ela era graciosa, corpo delicado, pele branca e bochechas rosadas. Usava vestidos soltinhos, com estampa de flores do campo e um relicário, que só Deus sabia o rosto que continha lá dentro. Ela cheirava à essas mesmas flores que estampavam seu vestido e diziam que ela tinha ares de boneca. Mas quando a noite caía, a moça delicada ficava dentro do guarda roupas. Encarnava o personagem que lhe garantia o sustento: roupas curtas e coladas, batom vermelho e decote avançado.

Ano Novo

E mais um ano começa. Acho que dividiram o tempo desta forma porque sabiam exatamente quando estamos cansados. Dividiram o tempo para que tivéssemos um estímulo para renovar nossas esperanças, para nos auto propor mudanças, para ganharmos um empurrão a fim de tomarmos uma decisão que fora sempre adiada, para traçarmos metas. Ainda assim, há os pessimistas que dizem "vai começar tudo de novo" como se isso não fosse uma dádiva. Começar de novo, ter essa chance, é privilégio para poucos. Dividir o tempo, para mim, foi algo genial. Que em 2015 eu viva menos dentro do meu mundo imaginário, porque a realidade vai ser bem melhor. Que eu me permita sonhar mais e sonhar alto pois para isso não há limites. Que eu possa sorrir dos erros que cometi, ciente de que muitos ainda serão cometidos. Que eu possa me conhecer mais, me fazer ouvida, que meus sentimentos sejam relevantes. Que meus méritos sejam reconhecidos pelas minhas capacidades. Que eu possa acordar todos os dias desse ano, com a consciência limpa e pronta para trilhar os caminhos que eu escolher.

Estou pronta. Pode vir 2015.