quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sobre o incurável

Um dia cinza e frio, uma tristeza, uma xícara de café e o pensamento há milhares de quilômetros daqui. Por vezes, o pensamento voa para milhares de dias que já vivi e eis aqui o imutável e a causa do meu desconsolo: a impossibilidade de viver novamente certos momentos que de tão marcantes e intensos, se tornaram inesquecíveis. Nove anos já se passaram, mas as vezes parece que foi ontem e temo pelo dia em que vou pensar "50 anos já se passaram, mas parece que foi ontem". Alguma coisa em mim não consegue acreditar que aquela história simplesmente acabou, como qualquer outra e que eu nunca mais vou olhar para aqueles olhos intrigantes, aquele cabelo arredio e aquele sorriso envolvente. E exclamo e grito: como eu queria me convencer que acabou! Mas não... em algum lugar do meu coração existe uma pequena (mas forte) esperança de que um dia, talvez com 70 anos, poderei mirar aqueles olhos novamente e ver o menino que eu amei, que me fez conhecer o amor e a dor, na mesma intensidade. A única coisa que o tempo foi capaz de apagar foram as mágoas... nem lembro das palavras rudes, das discussões severas, das procuras por puro interesse, das vezes que o mundo dizia que ele "estava me usando"... Estes anos todos passaram e quando penso nele só sei desejar coisas boas, felicidade, amor, alegrias e que ele tenha uma vida tranquila e duradoura, diferente de outros tempos em que eu só conseguia desejar que ele chorasse todas as lágrimas que um dia derramei. Naquele tempo, éramos tão jovens, de humor volátil, explosivo e extremamente imaturos, eu não sabia amar, muito menos ele. Do mundo pouco sabíamos, tão pouco do amor. Hoje temos vidas tão diferentes, realidades distantes e o meu lamento não é por não te-lo hoje. Minha dor é por saber que aquele cara que eu amei não existe mais.

Sobre culpa e lamentos

Quando penso em teus olhos azuis, só sei lamentar. Lamento muito por não ter te amado como tu merecias, não ter aceitado teu amor em plenitude. Lamento por não ter sido boa para você, carinhosa, atenciosa, fiel. A verdade é que nossa relação foi um erro, meu coração pertencia a outra pessoa e mesmo assim te envolvi na minha confusão, numa ânsia vã de substituir um amor, por outro. Tu nunca mereceste este meu falso amor. Te usei, para me favorecer, um sentimento egoísta e repugnante e tu, em meio à carência e solidão, imaturidade, ingenuidade, não foi capaz de ver o quão nociva eu estava sendo. Vivemos momentos felizes, compartilhamos anos de nossas vidas, tu esteves presente em tantas coisas que vivi e hoje, quando olho para estes quatro anos, vejo uma sombra e minha alma negra, poluída e má. Então, quando te vi sorrindo naquela foto hoje, ainda não sei explicar a razão da dor em meu coração. Um misto de culpa, uma vontade de te pedir perdão por tudo que eu não fui para ti e pelas coisas horríveis que fiz e que tu não sabes. Senti um desejo profundo de que que tu encontres uma mulher de valor, que dê todo o amor que tu mereces porque eu sei que tu és capaz de amar de uma forma verdadeira, pura e sincera. Mas eu sei que por trás daquele sorriso, mora a solidão. Teu nome é solidão, ela me parece ser tua companheira desde sempre. Enfim, não há nada mais que eu possa dizer além disso... que lamento, que preciso do teu perdão, que só te desejo coisas boas e que a vida te devolva todo o amor que tu me dedicastes... 

domingo, 12 de julho de 2015

Meu conto de fadas roubado

E então o príncipe solitário, tão inteligente, tão doce, puro e inocente, com ares de menino, daqueles que a gente não consegue imaginar nem sequer beijando alguém, eis que este príncipe se descobre homem e supreende a todos quando conquista o coração de uma jovem princesa, tão meiga, doce, delicada, pura, pequena, de aparência frágil, tão à altura dele, num encaixe perfeito, formando um par que transpira divindade. E na tarde fria de um sábado do mês de junho, eles se casam num evento com sabor de contos de fadas, tão lindo e digno de perfeição. E eu? E por que não eu? Por mais que meu coração esteja aparentemente bem resolvido, nunca senti tanta dor ao olhar para meu rosto no espelho, olhar para um passado sombrio e perceber claramente os motivos por que não eu. Minha índole se assemelha à de uma prostituta perto daqueles dois. Eu estava no mesmo caminho que eles, caminho de retidão e santidade e por impaciência desisti, fui buscar o amor por mim mesma e só encontrei lama ou algo parecido com chorume. Manchei vulgarmente a minha reputação e lógico, quando cruzei com ele, ainda que eu tentasse chegar a seus pés, jamais estaria à altura dele e novamente desisti. Esse casal é o retrato vivo de um futuro que me foi prometido no passado, um futuro que eu sonhei pra mim no passado e que troquei por meia dúzia de migalhas de amor, na ânsia de ser amada. O que tenho hoje talvez seja além do que eu mereça, mas o que vivo é infinitamente inferior ao que eles tem e construiram juntos. Ele é só dela, nunca foi de mais ninguém; ela é só dele, nunca foi de mais ninguém, nunca antes tocada, imaculada. Eu fui de muitos, meu par foi de muitas e a sobra desses passados é a nuvem negra dos meus dias.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Eu quero silêncio



Entra, fecha a porta e não diz uma palavra. Hoje eu não quero conversar, quero acender estas velas para o ambiente ficar à meia luz, quero aquela canção tocando, tomar um banho quente e me aninhar na cama ou no sofá. Não esquece de trancar a porta, não ligar a TV e desligar o celular porque minha única intenção é esquecer o mundo lá fora. Quero, por um segundo que seja, acreditar que está tudo bem, que tudo está em paz e que estarmos juntos não é errado. Vou preparar um drinque, acender meu cigarro e fumar lentamente, para curtir a leveza que só a nicotina dá. E se eu enlouquecer, gritar e chorar inconsolavelmente, por favor não me julgue: tudo que eu não preciso são julgamentos, porque eu sei que quando eu sair lá fora o mundo inteiro vai me julgar por estar aqui com você. Meu mundo está desabando, me sinto como um animal preso em uma jaula, entendiado, desesperado, capaz de qualquer loucura para fugir. Hoje eu não quero sol porque aqui dentro jaz a escuridão, não quero músicas alegres porque aqui dentro sobram lamentos, indecisão, medo, vontade de sumir. Embora o clima esteja propício, não espere de mim beijos ou sexo, teu abraço me basta, teu silêncio vai me satisfazer, ouvir teu coração bater embalado por Pink Floyd vai acalmar meu pranto.E quando eu sentir algum alívio, vou te agradecer e, mesmo que de forma egoísta, vou embora, pois certamente já terei encontrado em ti a força que eu preciso para tentar melhorar meus dias.

Fugir



Os dias estavam calmos demais, uma calmaria digna de desconfiança, daquelas que a gente sente medo porque é quase como pressentir que algo ruim vai acontecer. Foi quando uma tsunami de lama negra, lixo, chorume e vermes invadiu aquele dia cinza e quase alegre. Fui obrigada a acordar do meu pequeno conto de fadas, as máscaras caíram e vi o rosto das pessoas que me cercam, rostos de monstros, de lobos famintos prontos para atacar e despedaçar minha carne ingênua e que achava que todo mundo era legal. E descobri que no ambiente em que passo mais de oito horas do meu dia tudo que você falar será usado contra você; descobri que as pessoas podem ser infinitamente piores do que você possa imaginar. Primeiro veio a raiva, me vi incrédula, por não compreender como as pessoas podem ser tão maldosas, coisa que eu nunca consegui ser, nem que eu quisesse. E então eu só queria fugir, correr sem parar mesmo que eu não soubesse pra onde estava indo, rezei por um milagre, por alguma alma encantada que me raptasse e levasse pra bem longe... fechei meus olhos e só pedi um milagre.