domingo, 31 de março de 2013

Sem título

De repente, todas as palavras somem. A inspiração se vai com a chuva dos últimos dias e o frio se faz presente, ainda que o verão não tenha acabado. Inércia: tendência que o corpo tem de continuar seu movimento. Há meses eu parei porque me obrigaram a parar. E agora, recomeçar está sendo mais difícil do que sair de uma areia movediça. Neste movimento, joguei no lixo os sonhos que construí nos últimos meses, como se isso fosse necessário para encontrar novos objetivos e poder continuar. Ideais políticos, lixo. Vontade de mudar o mundo, lixo. Revolta contra a impunidade, lixo. Luta por igualdade social, lixo. 

Eu quero toda a podridão das sarjetas. Quero o Big Brother, novelas, jornais tendenciosos, alienação. Meus votos serão nulos, eu não quero ser conivente com toda essa sujeira. Se me pedirem voto, eu cuspo na cara. Quero me encher do vazio, da insignificância, ser um zumbi que vive em um mundo à parte. 

Por que não vale a pena querer mudar o imutável e alcançar o inalcançável. Quero viver dolorosamente aprendendo a me contentar com muito pouco, onde um presente simples, um cigarro, um abraço acaba fazendo toda a diferença. Hoje é o último dia do mês de março, a sol brilha quente lá fora mas eu preferia a chuva. Eu preferia ficar aninhada no meu sofá viajando com os contos de fada toscos, com os finais felizes que só existem dentro da TV.

"Deixe-me sozinha porque assim eu viverei em paz".

Meu nome



De repente o mundo cai aos seus pés. Todas as placas que indicavam o caminho da realização estão no chão. Na estação solidão, tudo está fora do lugar que deveria estar. Perdi minha identidade, meu sorriso festivo, a casa que era cheia agora só está cheia de vazio, como um túmulo. Para quem teve o muito, contentar-se com o pouco é doloroso demais, nem sempre dá para suportar. Aceitei o insucesso como parte de um processo que se chama vida, para lembrar de que tudo passa, sempre passa, nada é imutável a não ser a morte. E foi aí que o recomeço veio lento, como os dias que não passavam. Meu mundo mais fechado do que nunca, se abriu para o mínimo. Não lamento pelas coisas que eu tinha, mas pela vida que eu levava. Dobra-se o nariz, enverga-se a cabeça para baixo, a alegria do sol incomoda. Agora tudo é preto. Nada de cabeça erguida, de festas caras e orgulho. Quero ser apenas mais uma na multidão, completamente invisível. De repente não me sinto digna para provar o sabor da felicidade. A solidão não incomoda mais: não mereço e nem quero companhia. Meu nome é fracasso.