segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mais algumas dúvidas

Qual a linha tênue que divide se eu fico ou se vou embora? Afinal de contas, o que me prende dentro dessas paredes, dentro dessa relação que por vezes é tudo e em outros momentos só me causa dor e infelicidade? Para que lado a balança está pesando agora? Estar aqui e nisso aqui me dá mais alegrias ou dores? Quanta falta faz o doce sabor do vento no rosto enquanto batia asas livremente? Quanto não faz falta as noites sozinha, em que a solidão e o medo me obrigavam a fazer do som da TV minha companhia? Quanta dor me causa o peso do machismo ou quanto prazer me dá fazer as coisas para agradar? No espelho é que não me encontro. Talvez eu tenha me reinventado como uma mulher tradicional e recatada a fim de me adequar melhor aos dias de hoje, criando um paradoxo diante da mulher que eu era outrora. Sinto como se em algum momento eu vá explodir, rompendo essa couraça de boa moça e o monstro promíscuo e sem amor a vida vai ressurgir. Quem eu quero ser? Qual delas me dá mais prazer? Correr riscos ou viver uma rotina tranquila e previsível? Dúvidas que me consomem, me corroem e enlouquecem.

Sem palavras

Ótimo que tu tenhas planos que não me incluem, que tu vais correr atrás dos teus sonhos e adquirir todas as coisas que tu quiseres, ótimo que teus planos levantam tua auto estima que sempre esteve alta, a ponto de tu colocares uma música de festa, de agito, de lugares abarrotados de mulheres bonitas enquanto eu fico aqui, como o cão abandonado, tentando melar teus planos que vão acabar com as nossas noites juntos, que vão me colocar na rua pra mendigar atenção de outros porque eu não vou ficar em casa bancando a boa moça enquanto tu te diverte na rua e coloca empecilhos pra não me levar junto. Sim, ao mesmo tempo que tu queres ganhar dinheiro, quer sim fazer coisas sozinho, como se a nossa vidinha medíocre já tivesse te enchido o saco e agora tu só quer fazer outras coisas, sem a minha companhia. E como esperar algo diferente de alguém que só quer minha companhia quando estou de bom humor, se quando estou irritada de dor inventa uma desculpa pra ir ouvir música e ficar olhando facebooks alheios. E o que pensar de uma relação cheia de altos de baixos, em que eu nem sei mais os motivos que me mantém aqui?

Dia-a-dia

Pula da cama às 6:16, 15 minutos no banheiro entre atualizações do celular, escovar os dentes e arrumar o cabelo, tenta acordar ele pela primeira vez, arruma os lanches, passa o café dele, arruma o pão dele, tenta acordar ele pela segunda vez, se veste (sempre a primeira e mais confortável roupa que vê), calça o tênis ou uma sapatilha surrada, arruma a bolsa, confere se está tudo lá, apressa ele que levantou tarde demais, entra no carro, ele a leva até o trem. Cinco minutos de carro entre esquentar o motor, desembaçar os vidros, abrir e fechar o portão já que o controle está em cacos e depois chegar na estação de trem, mais dezessete minutos até a estação destino, desce correndo a plataforma e embarca no ônibus, mais uns dez minutos até o trabalho. Bate o ponto, come um sanduíche enquanto caminha para a sala, liga o computador, checa os e-mails, recebe documentos, digita, digita, digita, digita e depois digita mais um pouco, bate o ponto de novo, fica na fila do refeitório, almoça, volta pra sala, checa os e-mails, liga pra ele pra ver se está tudo bem, bate o ponto de novo, digita mais e mais, bebe água, faz um lanche, digita. Bate o ponto, espera o ônibus, sobe a passarela e espera o trem, desce na oitava estação seguinte, espera ele, ele chega e vão ao supermercado, comprar sabonete, desodorante, cebolas, tomates, vão para casa, ela faz uma janta rápida enquanto lava a louça, jantam, tomam banho, assistem um filme ou seriado e antes da meia noite estão dormindo, cansados dessa rotina não tão pesada, mas nem tão leve. E assim as coisas se repetem durante 5 dias da semana e aos sábados pela manhã ela limpa a casa enquanto ele trabalha mais um pouco, de tarde dormem e de noite se reunem com a família, cerveja, risadas, churrasco. Domingo eles passeiam ou dormem e assistem seriados o dia todo, comendo bobagens, até que se dão por conta que vai começar tudo de novo. Descrever já cansa, imagina viver.

sábado, 6 de junho de 2015

Enredo

Há tanto a dizer que eu não sei por onde começar, minha cabeça ferve em meio a medos, incertezas, vontades que não podem ser satisfeitas no momento e essas algemas invisíveis que me prendem, sem estar presa. O que eu quero não posso e o que tenho não me satisfaz. Vivo numa redoma de vidro quebrada, impossível de ser o que um dia foi porque ainda que se cole um vidro, as marcas estarão lá. Então sigo tentando caminhar, com as pernas atoladas em um poço de lama que eu mesma construí, num eterno vai e vem, em um eterno não saber o que querer, pior do que o pássaro que voa livre e solitário, infeliz mesmo acompanhada e com medo de ser mais infeliz se acabar com tudo. E para as minhas perguntas, não existem respostas. E não existe quem possa me dar um conselho. Vou viver esperando um milagre que mude o significado dos meus dias.

Rotina

E o dia começa cedo, o despertador toca e o tempo é cronometrado, tudo previamente pensado, 7:00 o trem, 7:25 o ônibus, não sem antes arrumar a casa, fazer café, preparar o lanche do dia, preparada para enfrentar uma rotina de 8 ou mais horas de trabalho, ainda que no privilégio de estar bem sentada, bom computador, ar condicionado, pilhas de papéis, salário em dia e refeitório no trabalho. Uma rotina 5 dias por semana, sem muita flexibilidade, faltou? Pagou. Se atrasou? Faz hora extra pra compensar. Tudo isso durante o mês inteiro, o ano inteiro, que soma a mais anos até fechar 30 ou mais, para enfim gozar de uma aposentadoria miserável, que vai te obrigar a trabalhar mais tempo, se a saúde permitir. Eu e mais milhares de pessoas no mundo, umas em condições melhores, outras em piores, mas sim, somos nós que fazemos esse mundo girar, essa máquina repleta de diversas engrenagens andar, nunca alcançando a perfeição, mas eu, pelo menos, dando o melhor de mim, para ter uma pequena compensação ao fim do mês, garantindo meu sustento e podendo planejar, ainda que nunca alcance tudo que eu sonhe. Sim, este cenário parece duro e por vezes nem sei como aguento tudo isso, mas o que me move é a gratidão, por pelo menos ainda ter todos esses privilégios, que tão poucos tem!