sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Revendo prioridades

Eu disse que a gente precisava parar. Eu falei para respirar. Nós subestimamos o nosso corpo todos os dias por medo de que pensem que somos preguiçosos que não querem ter uma vida ativa. Perdemos o controle e por mais que tenhamos conseguido controlar o lado emocional, suportando tudo, o corpo a gente não controla. Nossa natureza disparou todos os alarmes indicando que, se não pararmos neste exato momento, o estrago vai ser muito grande, talvez até irreversível. Não somos máquinas e mesmo que fôssemos, todas elas em um determinado momento param com suas atividades para fazer manutenção. O mundo buzina em nossos ouvidos a todo momento nos convidando para entrar nesta maré de correria, trânsito, cheques, 15 minutos de almoço, ônibus lotado, trabalho 12 horas por dia, lazer quase nunca, sonos pela metade. Nos convida a viver uma vida que, para satisfazer todos os compromissos e cuidar de tudo, seria necessário que o dia tivesse 50 horas - ou mais. Logo, se você não parou por bem, mais cedo ou mais tarde vai parar por mal. De repente todas as teorias de meditação e Yoga começam a fazer sentido. De repente percebemos que não adianta nada viver uma vida maluca para ter um bom salário no fim do mês, se vamos gastar parte dele em remédios e consultas médicas. De repente percebemos que nossas prioridades estão completamente invertidas. Vemos amizades se esfacelando por falta de convívio, ficamos tão atolados em nossos afazeres que fazer um simples telefonema passa despercebido - "o mato cresce rápido em caminhos pouco percorridos". E neste ritmo, quando percebemos, estamos distantes de todos os amigos, nos afastamos familiares, pessoas queridas morreram e só resta a culpa por não termos feito uma última visita, tomado um último chopp, curtido uma tarde recontando histórias e dando risada. Parar, pensar, relaxar, respirar. Saúde, família e amigos sempre em primeiro lugar.    

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um lugar chamado Solidão

A casa caiu e ninguém vai te segurar, chegou a hora de você experimentar o sabor amargo da solidão, todos tem a sua hora e não é fácil chegar no seu apartamento depois de um dia de trabalho e não ter com quem conversar, para quem contar os momentos tensos e as alegrias. Todos já se foram, tem seus interesses, cada um tem mais com o que se preocupar do que pegar o telefone e te ligar. Não há recados na secretária eletrônica, o celular não toca, sem e-mails ou mensagens. Ninguém vai se importar se você desaparecer, se de repente resolver ficar três dias trancado dentro do seu apartamento, sem banho, sem maquiagem, sem comer, só bebendo e vendo TV feito um chapado. Na geladeira só comida congelada, bebidas e leite. Você não vai querer cozinhar porque fazer isso apenas para si próprio e não ter alguém para dizer o quanto a refeição está boa não tem graça; ninguém para reclamar da bagunça e da sujeira então você só vai querer limpar quando estiver inspirado. Você nunca está esperando aquele alguém especial chegar então pouco importa se o lixo e o cinzeiro estão transbordando, se a pia está cheia de louça e há copos, calçados, roupas, bolsas, jóias por todo lado. Você aprende a enfrentar seus medos porque não há quem te defenda e proteja. É só você e o silêncio. Uma cama enorme vazia, sem briga para escolher o canal na TV, os lugares na mesa e no sofá vazios então que diferença faz se você vai sentar ali ou aqui? Sem ter com quem conversar, você vai se acostumando a guardar tudo dentro de si mesmo e falar começa a se tornar algo complicado de se fazer: há tanto a ser dito, mas você desaprendeu, por força do hábito. O peito incha e dói porque o ser humano precisa trocar - não nasceu para viver só - e como qualquer animal, precisa viver em bandos. Ou ao menos em dupla. Um ser humano sozinho é uma brasa fora do braseiro: se apaga. Uma flor fora do buquê: murcha e morre. A solidão nos endurece. Esfria. Isola. 
E mata lentamente.

Pare, por favor


Vejo a vida passando como um rio que corre para o mar, amigos e amigas casando, amores indo embora, filhos, gente partindo e chegando a todo momento. O mundo é uma máquina que nunca para porque o tempo nunca para e eu não sei até que ponto isso é bom porque ele passa tão rápido que não conseguimos observar direito as coisas, entender o que acontece, respirar um pouco. Vivemos dias tão corridos e rotineiros e geralmente não percebemos o que nos falta, o que nos cerca, o que nos faz bem, o que nos desagrada, mal sabemos quem somos. A memória vai ficando falha porque não vivemos com intensidade, nada fica marcado e o espaço do inesquecível vai ficando vazio, só restando algumas poucas memórias da infância e juventude que era quando não haviam tantas preocupações e a gente conseguia aproveitar melhor os momentos. Se o tempo não para, então eu paro. Deixar a vida correndo lá fora, o juro correndo no banco, as contas se acumulando, a comida na geladeira estragando, a cerveja amornando. Quero sentar na areia, sentir o cheiro do mar, ouvir as ondas e, sem pensar no relógio, olhar o infinito. Me ver no horizonte, rever prioridades, organizar a cabeça, respirar fundo, sentir o ar entrar e sair lentamente... a pele arder com o sol, a chuva misturar-se com minhas lágrimas, sim, eu preciso chorar, deixar a dor sair, o desamor, as perdas, as ausências, o stress do dia a dia. O choro fortalece os pulmões, alivia a alma, não cura mas ameniza. É disso que eu e mais meio mundo precisa. Parar. 

Minha Chapeuzinho Vermelho

E parece que foi ontem que nossa amizade começou. Duas adolescentes conhecendo o mundo, a vida, experimentando, sempre com um sorriso no rosto, tentando aproveitar tudo o que nos era oferecido. Tua amizade me ajudou a enxergar um mundo que estava ali me esperando e que eu me recusava a conhecer. Me fez sair da casca, do meu canto, me desacomodou. A tua alegria me fez despertar e cair na vida real. Viver uma juventude plenamente, como tem que ser, com risadas, frescuras, festas, bebedeiras, conversas, presentes, filmes, beijos na boca, paqueras, parceria para toda e qualquer travessura. Brigamos, nos reconciliamos, fomos a shows nacionais, choramos juntas. Várias vezes. Dançamos muito. Passeamos muito. Estar com você era esquecer das tempestades, de todos os problemas, dos fracassos, do chefe, da segunda-feira, da igreja, do que julgavam ser pecado. Eu vivia acorrentada em teorias vazias e atormentada pelo medo. Você abriu o cadeado e, com certo esforço, me libertei. É como se eu vivesse numa sala toda trancada e você abriu a janela: pude ver o colorido das flores, a luz do sol, a noite, a alegria desmedida. Esqueci quem não me amava, curei a depressão. Depois mudei para longe, longe, atrás de um sonho e quando ele se realizou lá estava você pra comemorar comigo. A distância nos afastou mas não foi capaz de acabar com uma amizade linda... Sorrimos tanto juntas, aproveitamos cada segundo daquela comemoração. Mas daí a vida nos pregou uma peça. Uma peça triste e tão dolorosa. Você bateu as asas e voou, num voo tranquilo, um voo de paz, surpreendeu a todos mais uma vez. Partiu desse mundo terreno, deixando-o mais triste sem o teu sorriso, sem a tua alegria de viver e da sensatez dos teus conselhos, do carinho do teu cuidado. Dormiu como a Cinderela. Deixou saudade e muitas lembranças, tão doces de serem recordadas que quando lembro é impossível não brotar um sorriso no meu rosto. Fica, também, uma pontinha de esperança de que um dia a gente possa se encontrar de novo. Agora, dorme em paz, minha Polentinha, Nine, Pô, Polenta, Chapeuzinho Vermelho, minha eterna amiga Poline.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma palhaça no seu carnaval

Os dias inevitavelmente foram passando, o relógio não parou de andar, o sol não deixou de nascer e se pôr, veio chuva, lua cheia, lua nova, temporais. Vieram outros carnavais, natais, aniversários, trocaram o presidente, o governador, enchentes, secas, nascimentos e mortes. Bocas diferentes foram beijadas, rolaram transas com outras pessoas, muito álcool, novos amigos, novos lugares, brigas, acidentes de trânsito, formatura. A cada dia um passo para longe. O telefone tocou, você veio e se foi várias vezes, eu driblei tudo pra te ter de novo em todas as vezes que você quis, dei tudo de mim, cartas, palavras, voz trêmula, carinho. Num dia eu era tudo, era tua saída, a solução para os teus problemas, a mulher que você sempre amou, a mulher da sua vida, quem você quis esquecer e não conseguiu, o melhor beijo, o melhor sexo. No dia seguinte eu era apenas uma amiga, que nunca mais ficaríamos juntos, que um "nós dois" nunca mais aconteceria, que não teria volta, que eu não te procurasse mais, que aquela era a última vez que eu te veria. E o ritual se repetia: eu chorava, não te ligava, sentia ódio, caía na gandaia, bebia todas e achava que tinha te esquecido. Até virar a esquina e me dar de cara com você, vacilar em todas as minhas decisões e te aceitar de volta. E o ciclo nunca era cortado. Nunca foi cortado. Não importa se hoje uma longa distância nos separa, se eu quase esqueci teu telefone, se muitos dos nossos momentos foram apagados, todas as recordações colocadas no lixo, se faz meses que não nos falamos e nesse tempo todo você noivou, casou, mudou de vida, religião e hábitos. Quando eu vejo seu rosto nas fotos eu sei que você não é feliz, não está feliz. Falta um brilho no teu sorriso, uma luz que eu sempre vi brilhar nos teus olhos. Não importa se eu fui uma palhaça no seu carnaval, ainda conheço você, sonho com você, não faço cerimônia não. A quem você quer enganar? 
O tempo é passageiro e vai dobrar teus joelhos.

Fundo do poço


Não me pergunte como eu vim parar aqui nesta noite fria, usando apenas um sobretudo, vestido curto e uma bota, batom vermelho nos lábios e um rímel borrado. Não importa se eu peguei um táxi ou uma carona de alguém que achou minhas pernas bonitas e me convidou para entrar no carro. Eu não sinto frio, nem fome, nem sono. Eu não sinto nada.  Não me pergunte o porquê do meu coração estar partido e tudo que eu consigo e quero ver na minha frente é um copo de uísque sem gelo, ou uma vodka, ou qualquer outra bebida forte que faça com que eu perca a cabeça, caia no chão e vá parar em qualquer lugar. Sim, é isto mesmo que eu vim buscar neste bar repleto de homens que me olham inescrupulosamente: um pouco de álcool, um tempo pra pensar, uma poltrona confortável, um cinzeiro e muitos cigarros, um blues tocando sem parar, pois quando eu ouço um som desses penso em ocupar rapidinho o espaço que ele deixou vazio. Ele partiu da minha vida como se eu não fosse nada, fosse um móvel velho que ele jogou na calçada e adeus, ou como um cachorro que ele largou na rua, ou um livro velho que ele já leu e conhece todas as páginas e não se importa com o final. Para ele tão simples e para mim tão complicado. Quero mais é encher a cara, fazer desta maré ruim minha nova morada, sem sair deste lugar: quero é sofrer, chorar, cuspir toda a dor que sinto de todas as formas que conheço de autodestruição. Vou subir na mesa e dançar para todos os homens que me quiserem, entregar meu corpo para o primeiro que passar, entrar em qualquer carro que me pegar, dormir em qualquer cama que me oferecerem e até na sarjeta. Quando sofremos uma recusa de alguém que amamos é como se nós mesmos nos recusássemos. Então pouco importa que mão imunda vá te tocar, que boca você vai beijar e para quem vai se entregar. Pouco importa se vai acordar amanhã, onde vai acordar, onde dormiu, o quanto de álcool você tomou. Essa fossa dura o tempo que for necessário para você entender que quem perdeu não foi você, mas quem não te quis. E se não te quis foi porque não te merecia.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Assassinato



Não peça que eu sorria, se tu me fizestes chorar. Se tu fostes o único e maldito motivo de tantas e tantas lágrimas! O meu rosto está cansado, sim, envelheci 15 anos nos últimos 6. Me tornei uma senhora mal amada, desiludida, sem esperanças. Tu tiraste o melhor de mim: minha vontade de viver, de ser feliz, de amar e ser amada, de ter uma família, ser mãe. Pegaste todos os meus sonhos cultivados da infância até a adolescência e jogou no lixo. Não sobrou nada além de frieza, desamor, desesperança. Não acredito mais em deus, não quero mais casar, ser mãe nem pensar, romantismo não existe, todos os homens são infiéis, o amor não existe, o bem não existe, o mundo está repleto de gente egoísta, sexo só os casuais e nunca mais. Das drogas as mais pesadas, porres fenomenais, a moça ingênua e sonhadora deu espaço à uma louca que não se intimida com nada. Zero de sentimentos. Nunca mais se apegar, nunca mais se entregar, nunca mais sonhar. Casamento? Só se for o dos outros, para eu destruir. Filhos? Só se for o dos outros para eu ensinar todos os palavrões possíveis e imagináveis. Tu que mataste a boa moça que existia em mim. 

Mensagens subliminares



Queria que você encostasse o carro aqui, agora, na porta do meu trabalho e dissesse que chegou a hora, não me deixasse questionar, minhas coisas a gente manda buscar depois, que eu tinha que ir nesse exato momento, sem hesitar. Sei do que eu ainda sinto aqui dentro, sei que eu não diria não, ainda existe uma chama de esperança que me faz te esperar, e esperar, sem contar o tempo, com toda a paciência que me falta para o resto. Você saiu da minha vida e deixou um turbilhão de dúvidas e cada volta sua para mim era um recomeço porque eu já estou cansada de saber que o amor só acontece uma vez na vida e, embora todos os tropeços, sim, eu ainda queria você aqui. Me sinto como uma rapunzel, presa no alto de uma torre em que me protejo do mundo e dos desamores, longe de toda maldade, só esperando o momento certo, aquele em que você virá me buscar mas eu só irei se eu quiser, afinal de contas, terei que jogar o cabelo para você subir até mim e me salvar. E o sufoco do dia-a-dia, a correria, o ônibus, o despertador, o stress, o almoço rapidinho, uma cerveja, um trago, a rave, o acampamento, tudo isso só serve para me distrair, as vezes até parece que as lembranças suas sumiram mas quando a noite cai é de você que meu inconsciente me faz lembrar, feito alarme, acusando que você ainda é uma questão mal resolvida, que ainda tem espaço para você aqui, que mesmo que eu tente me enganar, todo o sentimento ainda está aqui, latente, aguardando a hora de se manifestar. Quando soprei as velas do bolo, no meu aniversário, na hora do pedido, eu pedi você.

Um gaúcho das bandas do Uruguai



Um gaúcho com um chapéu de abas largas bem enfiado no rosto, bem preso por um barbicacho surrado pelo tempo, pelo sol e pelo suor da lida campeira de cada dia. Um chapéu daqueles que esconde o semblante do rosto. Que esconde, por timidez, seus olhares curiosos quando me vê passar. O bigode, sempre bem feito, junto à barba espessa disfarça sua fala cujos lábios não posso ler, mas não esconde por completo seu belo sorriso quando me avista ao longe. A pele sempre bronzeada e até queimada por permanecer ao sol durante longas horas, não cedendo, por macheza e grossura meus apelos para se proteger. A bombacha sempre bem larga, para não atrapalhar a lida, seguido pede uns remendos que faço com carinho, pois nem sempre consegue desviar os espinhos do arame ou do campo. O cinto ele pendura no prego atrás da porta; a mala de garupa repousa sobre o pelego que cobre o banco. As botas chegam sempre embarradas, denunciando que o campo ainda não secou depois da chuvarada de agosto. Os músculos sempre fortes, trabalhados pelas laçadas diárias, pelas marcações que exigem força para segurar o gado e a faca nunca sai da cintura, pois como ele mesmo diz: “tem que andar protegido caso algum atrevido resolva se passar”, nunca se aperta se precisa comer uma laranja, ou se resolve sangrar uma ovelha para comer com mandioca junto aos parentes. Não se micha numa briga, nem teme um touro bravo, a madrugada é sua companheira, não deixa o serviço por fazer. Da vida nunca reclama, um cusco baio sempre o acompanha e o pingo é seu braço direito. Este é um gaúcho de respeito.

Escrevo

As palavras nascem em mim feito pássaros em um ninho. Aos poucos vão furando a casca e saindo, e voam, para um lugar qualquer, para longe e perto, espalham-se feito boato em cidade pequena. Escrevo porque isto está em mim desde menina: sempre fui daquelas crianças que viviam com um lápis na mão, escrevendo divagações, palavras sem sentido, o meu próprio nome, ou uma palavra como "casamento" só porque era legal de escrever sem tirar o lápis do papel. Depois vieram os diários, questionários, poemas que eu copiava dos tantos livros que li, entre eles Cecília Meireles, Clarice Lispector, Mário Quintana, J. G. de Araújo Jorge, Lya Luft. Não sei ler sem escrever. Na minha bolsa não faltam batons, alguns cigarros e canetas. Falta dinheiro, maquiagem, esperanças mas não faltam materiais para escrever e um bom livro para ler. Escrevo desde sempre, a escrita está em mim. Escrevo porque consigo externar em palavras o que se passa aqui dentro, o que vejo do mundo e o que eu mais profundamente queria. Escrevo porque nem tudo pode ser dito. Escrevo porque meu orgulho não permite que meus amores e desamores saibam, pela minha fala, o que eu sempre quis lhes dizer. Falo tudo, nada deixo guardado, tudo o que me inquieta e fascina transformo em palavras, em crônicas e poemas, mas coloco para fora. O que me angustia já não perturba tanto depois que o mundo lê o que se passa do lado de cá. Quem lê minhas palavras é meu melhor amigo. Este espaço é reservado para um mundo que é só meu. Para o que guardo dentro do coração.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Anúncio de jornal



Um cara que goste de futebol, de preferência daqueles bem fanáticos, que adore sair pra jogar com os amigos ou ir ao estádio, legal seria que torcêssemos pelo mesmo time, mas isso não é pré-requisito, a rivalidade também apimenta as coisas. Ele pode gostar de beber, que mantenha sua rotina de happy hours com os amigos enquanto eu também vou para outro bar com minhas amigas ou fico no salão fazendo a unha ou o cabelo. Ele pode gostar de vídeo-games, eu também gosto, que seja parceria para um bom duelo e não se importe que eu fique jogando the sims enquanto ele prepara o jantar. Que tope me buscar no horário de almoço para uma fugidinha num hotel, feito dois amantes que se escondem para dar suas escapadas. Não me importo que seja bagunceiro desde que não me encha o saco para que eu fique juntando suas tralhas quando eu não estiver afim. Que acorde junto comigo e leia o jornal de roupão enquanto preparo o café da manhã, me deixe no trabalho e depois siga para seu dia cheio de reuniões e compromissos. No final do expediente pode me buscar ou, se eu me liberar mais cedo, aceitar minha carona, afinal eu quero aprender a dirigir, inclusive vou achar o máximo umas briguinhas quando eu errar a seta ou apagar o carro no horário de pico, coisas normais para uma mulher que acaba de conseguir a habilitação. Que chegue em casa e tenha por costume fazer um bom mate para tomarmos juntos enquanto assistimos o noticiário da noite e preparamos o jantar. Que goste de dançar ou que pelo menos queira aprender pois eu sou uma ótima dançarina... que curta uma pilcha bem gaudéria, um baile bem tradicional e até um grupo de dança para nos aperfeiçoarmos. Pode até ser maçom, fazer tantas horas extras, ser bem ciumento mas amoroso para compensar, que tenha seus momentos de reflexão e que prefira ficar sozinho. Que goste de viajar, tirar mil fotos ao conhecer lugares novos, que aceite que eu tenha um gato e um yorkshire que vão dividir a cama conosco. Que queira ter uma vida juntos, bem rotineira, como tantos casais que existem por aí, ralando para pagar o financiamento do apartamento, juntando grana para a festa de casamento e depois para o bebê. Sim, que ele queira ter filhos. Ou que não queira no começo, mas se um “acidente” acontecer, que seja um pai bem babão e dedicado. Que se dê bem com a família dele e com a minha, para que tenhamos aqueles almoços de domingo com direito à cunhados, primos, sogros e sogras, crianças correndo, cerveja e churrasco. Verão com praia, um motel de vez em quando para sair da rotina, que me surpreenda. Que seja bem romântico e apaixonado, daquele que manda flores inesperadas, manda um motoboy entregar as entradas de um cinema, que faça uma massagem quando eu estiver cansada. Sei que um cara romântico hoje em dia é complicado de encontrar, mas se não for assim, que pelo menos adore meu excesso de romantismo pois, como típica pisciana, não poupo esforços para mimar quem eu amo. Que confie em mim, que faça com que eu me sinta super segura. Que me dê a certeza de que eu estou nos planos dele até o fim. Pode até brigar comigo por eu querer cortar o cabelo e fazer tatuagens, por eu gastar demais, por ter muitos amigos, por ser sempre tão emotiva e sensível quando na verdade estou sempre me mostrando ser a mulher mais forte do mundo. Que goste de dormir até tarde nos dias de folga, que topo buscar uma pizza ou um champanhe às 3 horas da manhã, que seja todo “cricri” com o carro, um bom cidadão e cumpridor rigoroso das leis civis. Que trabalhe demais e que seja realmente bem pago por isso pois eu faço o mesmo. Que continue me achando linda mesmo quando eu estiver com 60 anos. Que suporte minhas frescuras com insetos e minhas crises de isolamento, meu enjoos quando eu engravidar e meu stress quando as cólicas do bebê não me deixarem dormir. Pode até fumar, desde que não me incomode se eu também quiser fazer isso. Que seja curioso e goste de experimentar. Brincalhão ou tímido, casa cheia ou bem na dele, que me ame exatamente do jeito que eu sou. Que não tente me mudar. Algumas coisinhas até vai, mas tem coisas que não dá. Pode até chorar quando der uma mancada e eu ficar furiosa. Um cara normal, com defeitos e qualidades, mas que seja decidido e saiba o que quer: ter uma vida do meu lado. Uma família normal, com dias normais. Será que é demais querer isso?

Minha vez de falar


Sabe quando alguém diz tudo que você queria dizer e não conseguia?
Estas palavras soaram feito canção.

Que saudade de um brilho no olhar. De respirar apertado, de um frio na barriga e um calor no coração. É melhor amar e não ser correspondido, do que um cômodo vazio. Acordo todos os dias e fico pensando, pensando…em quem pensar. Vivo a agonia constante de perseguir o acaso, procurar suspeitos para uma dor que não sinto, de esperar o inesperado.
Eu desafio o dia, saio de casa renovando esperanças e colhendo frustrações. Cada hora que passa e meu coração não pulsa, me sinto uma fracassada. Só queria um soluço de alegria no peito, um sorriso que me deixasse com a cabeça grudada no vidro do ônibus, enquanto escuto aquelas músicas que toca no rádio.
A gente reclama quando está apaixonada, pois a vida nem sempre é generosa com os sentimentos. Às vezes o que sentimos é tão puro, que entregamos a quem não merece, e, por isso, não recebemos retribuição alguma pela nossa afeição. A rejeição causa uma dor incomensurável. É inimiga do orgulho e da autoestima, parceira fiel da mágoa.
E mesmo com todos esses riscos, insisto em buscar alguém que seja a bússola do meu pensamento, razão de fechar os olhos para poder aguçar os demais sentidos. Que falta que eu sinto de alguém para fazer as coisas mais bobas do mundo, como ligar antes de dormir só pra dizer que amo, mandar uma mensagem no celular de madrugada para que eu seja a primeira pessoa a lhe dar bom dia, ou então passar naquela loja de bazar perto do meu trabalho e comprar uma lembrancinha que mostre o quanto eu me importo. Que saudade de ter saudade.
Volto pra casa, pensando naquele cara que não existe, na sensação gostosa que é ser inteiramente de alguém. Dedicar meus dias a te viver e minhas noites a te sonhar. Suspirar com vontade, trocar o vazio da cama pelo peito cheio de dúvidas. Suar frio ao saber que irei encontrar a pessoa que mexeu comigo, como há muito tempo não acontecia. Não sei se eu te inventei, mas em algum lugar você está. De alguma forma, você existe. Só preciso te encontrar. Quem sabe amanhã…(http://www.verdadefeminina.com.br/vazio/)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um pouco de paixão, por favor

Aquela sensação boa de, ao ouvir uma música, pensar naquela pessoa especial e sorrir. O suspiro vem logo depois, involuntariamente. Sentir o coração batendo forte só ao ver o nome dele quando toca o celular: ajeita a voz, demora um pouquinho para atender e diz que estava saindo do banho, só para seduzir... Organizar meticulosamente cada detalhe da roupa, cabelo, maquiagem, acessórios e passar uma tarde se arrumando para o encontro que vai ser à noite. Contar os minutos e quando ouve o barulho do carro sente vontade de sumir, sair correndo, só por medo de falhar. A voz fica suave, os movimentos são minuciosamente previstos e calculados, a mão não sai do cabelo, não sente fome e nem sede. Cuida tudo que fala, sempre em tons suaves para não parecer vulgar. Cuida os argumentos demonstrando inteligência. E na volta pra casa, na hora do adeus, as bocas lentamente se aproximam e aquele beijo tão esperado acontece e supera todas as expectativas... Ela sobe as escadas de casa como se flutuasse, corre para o quarto, deita na cama e fecha os olhos, revivendo aquele momento mil vezes, até dormir. Receber flores no trabalho agradecendo pelo encontro e já marcando o próximo. Perceber-se pensando nele, no quão lindo e gentil ele é, na ansiedade de viver cada vez mais perto dele. Isso é paixão. São sentimentos únicos e tão marcantes, inesquecíveis. É tudo que eu quero viver de novo. Sentir de novo. Que eu não perca as esperanças, que eu não me canse de esperar. Tanta gente no mundo e esse cara que eu tanto espero deve estar por aí, em algum lugar, só esperando a hora certa pra gente se encontrar.

Sem rumo

Fazer as malas, nelas tudo o que eu preciso, algumas bebidas, remédios e CD's, roupas quaisquer, um pouco de maquiagem, salto alto e pronto. Entro no carro e deixo a música me conduzir, não importa se eu trabalhei o dia inteiro, se não dormi direito à noite passada e meu corpo ainda dói de cansaço e stress. Não importa se a estrada está cheia de gente que só quer aliviar a cabeça assim como eu, não importa se o trânsito está lento, o tanque está cheio e dentro deste espaço eu tenho tudo que eu preciso: sair sem rumo, a música tocando, amigos me esperando se eu quiser encontrá-los, a noite fervendo e só querendo mais uma mulher sozinha e desgastada, pronta para se reenergizar. Nesta noite eu só quero o horizonte com um sol se pondo bem vermelho e logo depois uma lua cheia para iluminar e eu desligar os faróis para aproveitar a penumbra. Só quero desligar do mundo, esquecer a semana sempre tão cheia, a correira, o trem, o ônibus, o despertador, a hora do almoço, a volta pra casa, a TV, a desordem, o banho e a cama, tudo sempre na mesma ordem, tão rotineira. Quero dormir um pouco mais que o necessário, sentar na areia da praia e curtir as ondas quebrando lentamente, num vai-e-vem sem fim. Depois eu deixo a maré subir e água vem gelar meu corpo, fazer o sangue correr mais forte, sentir que ainda há vida aqui, que eu não sou uma máquina que só vende sua força de trabalho, não sou apenas um corpo que pode ser tocado por qualquer homem na ânsia de saciar um desejo momentâneo, eu não sou só esta pessoa séria do dia-a-dia, uma simples cidadã, que paga suas contas e tenta acreditar em dias melhores. Não! Preciso de um soco na cara, uma sacudida nessa vida para entender que há muito mais coisas aí fora pra serem vividas, esgotar minha saúde aproveitando ao máximo cada segundinho. Quero mais da vida. E quero agora! 

Movimentos

São quatro anos. O tempo de uma faculdade inteira, o tempo para saber ler, escrever e fazer cálculos simples, até conhecer sobre estudos sociais e ciências. O tempo que uma criança leva aprender a falar, caminhar, sair das fraldas, correr, escrever o nome, ser mais independente. É o tempo que o país tem para se adaptar (ou não) à política do último presidente eleito. É o tempo que leva para uma copa do mundo acontecer de novo. Não são 4 dias, nem 4 horas. É muito tempo. O suficiente para conhecer alguém profundamente e neste movimento se decepcionar, saindo do encantamento inicial para o estranhamento do final, aquele sentimento de "quem é esta pessoa?". O sentimento sai de uma paixão tão linda para um fim desgastado, pois em 4 anos temos tempo mais que suficiente para não conseguir mais esconder quem realmente somos, nossos defeitos, medos, dependências, pendências. O tempo está para o amor assim como o fogo está para o vento: apaga os pequenos, inflama os grandes. Ou apaga os grandes também, pois a rotina é o pior dos males. O egoísmo exacerbado, a falta de sinceridade, o "não se abrir", não perdoar, não ouvir matam um relacionamento. Um sentimento. E quando vem a recusa corremos o risco de, por carência ao se ver sozinho, se humilhar para ter aquela relação de volta, uma relação que é doentia mas que ficamos tão acostumados com o pouco do amor que o consideramos melhor que o nada, a solidão, a insegurança, o vazio, o "não ter com quem planejar". Humilha-mo-nos. Imploramos. Mendigamos por amor. E o outro se sente tão bem com esta imploração que procura estender ao máximo seu tempo como "eu sou o bom". É quando então percebemos que estar só não é tão ruim. Mandar em seu próprio nariz é melhor do que ter que fazer o que não quer para agradar alguém. Ser obrigado a conviver apenas consigo mesmo assusta, aterroriza num primeiro momento mas o mesmo tempo que afasta duas pessoas e mata um sentimento, também mostra que somos fortes o suficiente para aprendermos a lidar com o fato de estarmos sozinhos. Não é preciso ser forte o tempo inteiro. Vez ou outra uma música vai tocar, encontraremos um bilhete, em sonho a gente se reencontra com aquela pessoa. Não é errado chorar, não é errado ligar e dizer que sentiu saudade naquele momento. O que não podemos é entregar o jogo, dar-se por vencido. Afinal, existem 7 bilhões de pessoas no mundo e aquele cara não é o último que você vai encontrar.

Ensaio sobre o vazio



Caminho lentamente pelas ruas. As pessoas passam por mim como se eu fosse invisível e me pergunto: será que não sou mesmo? Somos jogados neste mundo sem que alguém nos perguntasse se queríamos vir para cá. Ou um acaso, tão duvidoso, nos trouxe à vida. E a cada dia que acordamos nos é imposta a tarefa de tentar ser feliz e tentar chegar ao fim do dia inteiro, por dentro e por fora. Todos os dias temos a missão de trabalhar para poder adquirir, submeter-se às leis para não ser privado da liberdade, sermos hipócritas para manter as relações em um nível tolerável e suportável. Nem tudo nos é permitido e neste misto de questionamentos e certezas vagas, penso: que sentido tem estar aqui? Sem demorar concluo que, em viver, não há sentido, nexo algum, coerência nenhuma. Olho para as pessoas falando, pensando, trabalhando, sorrindo, sérias e no final das contas cada um sabe que nada faz sentido mas não aceita isso. Fica sempre buscando teorias mirabolantes que expliquem as coisas de uma forma menos trágica e mais colorida. "Nascemos pela vontade de um ser supremo", "estamos aqui de passagem, para crescimento", "quem morre vai para um lugar muito melhor", "a gente só vai compreender as coisas depois da morte", "tudo faz sentido só não podemos entender agora". Cada um acredita naquilo que o deixa mais confortável, que lhe faz bem e a maioria acredita que nunca está só. E se realmente estivermos sozinhos? E se só nascemos por obra pura da natureza? E se quando morrermos, simplesmente morremos, como qualquer outro animal? Não há necessidade de ter explicações para tudo. E mesmo que esta necessidade exista, não há explicações para tudo. Os mistérios nos envolvem à todo momento. O universo foi, é e sempre será uma incógnita indecifrável.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um pouco de platonismo

Como se aproximar sem ser vulgar? Como demonstrar meu interesse em conhecê-lo melhor sem parecer "atirada", desesperada, encalhada? Como falar da minha curiosidade sobre seus gostos, sonhos, defeitos, qualidades, manias sem deixar transparecer meu sonho romântico e utópico? Como te fazer entender minhas intencionalidades que existem mesmo sem nunca ter falado com você? E foi tudo isso que eu pensei depois de alguns dias cheios de reuniões e encontros inesperados nos eventos de trabalho em que eu o encontrei. Ele era exageradamente um cara dentro dos moldes do que eu queria, feito um manequim, um modelo, um exemplo do tipo de homem que eu estava procurando. Depois de ouvir suas colocações sempre tão filosóficas e teóricas nas capacitações de trabalho, eu me esforçava para compreender a profundidade das falas dele e me esforçava mais ainda para não me jogar naqueles braços fortes e lhe propor uma companhia para os mates que ele dizia serem tão solitários. Dentro da minha cabeça sonhei com manhãs juntos, jantares, abraços quentes e aconchegantes e imaginei que éramos duas peças de quebra-cabeça com um encaixe perfeito. Me permiti viver sob a teoria de Platão, aquela que diz que o amor, entre outras coisas, pode existir apenas no mundo das ideias, sem a menor intenção de se tornar real pois, ao sair do mundo das ideias para o mundo real, deixa de ser platônico, deixa de ser ideal e fica passível de todas as interferências ruins que podem acabar com tudo. Permitir-se viver um amor platônico é querer e compreender que aquele sentimento lindo nunca poderá ser real. E sentir-se completo e satisfeito com isso.