quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O sono sem fim

Ela é só mais uma que sucumbiu à dor. Só mais um ser humano que se perdeu pelo caminho e não encontrou forças para continuar. Ela estava caindo, mas as pessoas não costumam prestar atenção de verdade nos outros. 

Atrás daquele sorriso, dos planos simples, do amanhã mal programado, do sono sem fim, dos dias e noites apáticos na frente do computador, da falta de vontade de sair, da ausência de auto-estima e por consequência o descuido com a aparência, dos celulares desligados, a impaciência e o proposital isolamento, estava uma vida que ia morrendo aos poucos, lentamente, como uma vela que vai queimando e se apagando. 

Ninguém viu, mas ela estava se escondendo da dor, da sensação de estar perdida, disfarçando, muito bem, todo o seu descontentamento. Das outras vezes que tentou, ela esperou estar sozinha ou todos dormirem, mas não teve sucesso. 

Dessa vez não escreveu cartas, não pensou em se despedir de ninguém, simplesmente agiu, num ímpeto de dor, de desistência, dominada pelo sentimento de fracasso. Naquele instante nada mais importou, o tic-tac no relógio não se ouvia, não teve um último cigarro, nem uma refeição preferida. 

Abriu o vidrinho de veneno e foi misturando, aos poucos, com a cerveja que comprara, para disfarçar o gosto e ainda morrer bebendo o que ela tanto gostava. Aproveitou aqueles segundos como nunca tivera aproveitado nada antes em sua breve vida. Deitou na cama, silenciosa, tranquila e dormiu o sono que ela mais queria: o sono sem fim.


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