segunda-feira, 23 de abril de 2012

O que me falta


O que me falta tem forma, tem jeito, tem cheiro, tem atitude mas ainda não tem nome.
O que me falta me causa solidão, ainda que eu não esteja só.
Deve andar por aí, com a cabeça no ar, sempre pensando nas mil tarefas que tem que cumprir, correndo contra o tempo e, entre um gole de café e um sorriso, nem percebe o vazio que traz consigo, que só poderá ser amenizado quando eu chegar.
Quando chega em casa, tenta ajeitar as coisas rapidamente e enquanto sente a água quente do chuveiro correndo em seu corpo, por um momento até pensa no quanto eu faço falta.
Ele só quer ter com quem conversar depois do banho e enquanto come um sanduíche, alguém que se importe com ele e pergunte como foi seu dia, que dedique um tempo pra ele. E para as coisas dele.
Alguém que reconheça quando ele chega pelos passos pesados e rápidos no corredor,
pelo resto de perfume na camisa depois de um dia de trabalho,
pelo toque do telefone ao fim da tarde perguntando o que precisa da padaria da esquina.
Esse alguém que ele precisa sou eu, exatamente da forma que sou, com todas as minhas manias
e preguiças, e medos. Eu, que quase sempre esqueço de mim com esse meu lado maternal sempre aflorado, querendo cuidar de tudo e todos todo tempo.
E aqui, enquanto não encontro aquele que me falta, embora meu rosto esboce tantos sorrisos,
quando chega a madrugada, a ausência dele me joga de frente com a nostalgia, e tristeza.

domingo, 22 de abril de 2012

Mais uma história trágica...

Ele decidiu não perdoá-la. O erro fora pequeno mas o orgulho dele era maior que o desejo de manter e continuar o que havia sido construído no último mês entre eles. Se conheceram por acaso, numa madrugada fria, estranhamente no mês de março e ela sempre se perguntou se aquele súbito envolvimento era somente obra do acaso. Conversavam muito, por horas à fio, sabiam mais de suas intimidades do que muitos de seus ex-amores puderam saber. Tinham tanto em comum, embora o encontro (ou seria reencontro?) fosse recente. Ele resolveu sumir por uns dias e ela não soube entender, não suportou a ausência de quem tinha lhe feito companhia nos últimos dias, de quem vinha lhe fazendo tanto bem. Agiu por impulso, num ataque de fúria adolescente que não condizia em nada com o jeito dela, e despejou toda a ira nele. Até hoje ela não sabe explicar a causa de tal descontrole, justo ela que sempre fora tão amante da liberdade, de deixar tudo e todos livres para irem e virem... 
Tentou se desculpar, ele disse que não entendia o motivo da cobrança, ela explicou que não estava cobrando, só queria entender porque ele sumira, ela ligou mil vezes e ele não atendeu. 
Não respondeu aos chamados dela. 
Ele seguiu a vida como se ela nunca tivera existido. 
Ela chorou. Lamentou. 
Se esgotou. 
E não se perdoou. 


terça-feira, 10 de abril de 2012

Desabafo de Leoa



Quer saber? Homens complicadinhos, indecisos em tudo, que não sabe se casam ou se arrumam o som o carro, aqueles caras que vivem cheios de "nhenhenhes" e dúvidas, reclamando de tudo... TÔ PASSANDO. 
No passado os homens não eram tão sentimentais, eram mais brutos e grosseiros até, eram homens decididos (tirando raras exceções). Casavam porque sabiam que sozinhos a vida seria muito mais difícil, eram comprometidos em não deixar faltar nada para a esposa, eram bons pais e, em geral, bons maridos, daqueles que realmente valorizavam a esposa. Eu sou extremamente contra à ideia de "se fazer" ou "fazer tipo". Faço um tremendo esforço para falar tudo o que penso, sem "papas na língua". Se eu amo, se estou apaixonada, não canso de declarar isso não só à pessoa, mas aos 4 ventos. Sou pisciana, romântica por natureza e se eu gosto, gosto mesmo... Se eu der ouvidos à todos os meus instintos amorosos posso ser confundida com uma mulher desesperada ou uma louca descabida, daquela que manda flores, pinta a rua, anda sempre flutuando no mundo das nuvens, faz declarações de amor ao vivo e à cores, enfim... romântica e brega ao extremo. Já estou cansada de saber que esse tipo de coisa não se enquadra nos dias de hoje, ou seja, tenho que reprimir todos os meus sonhos românticos e declarações de amor públicas. Acabo me enquadrando no grupo de pessoas mais detestáveis na minha opinião: os hipócritas. Quem quer dizer que ama, mas reprime esse desejo para não parecer fácil, está sendo hipócrita. Quem fica "fazendo tipo", morrendo de vontade de ligar e não liga, morrendo de vontade de ir pra cama e não vai, tudo só para impressionar o outro, está sendo hipócrita. Estamos nos tornando mestres na arte da hipocrisia até no amor. E qual a consequência disso? Mentiras para nós mesmas, mentiras nas relações, mentiras para todos os lados. Porque uma hora a máscara vai cair e quem sempre sofreu disfarçando o ciúme vai explodir e vai fazer um barraco, quem sempre quis bancar a santa uma hora encontra uma língua solta sobre seu passado, quem quis bancar a tímida e contida é vista por um fofoqueiro às gargalhadas efervescentes com as amigas. Resumindo a conversa, quero não só para mim, mas desejo para todos, que encontremos uma pessoa com quem sejamos verdadeiros desde o princípio, sem fazer "tipo", sem se conter (cuidado, tudo tem medida). Alguém que possamos elogiar e declarar nosso carinho sem que nos peçam calma. Alguém que nos ame por aquilo que somos e não pela imagem que projetamos de nós mesmos. A imagem é desmontada, as máscaras caem, mas nossa essência será sempre a mesma. 

sábado, 7 de abril de 2012

Um casal de campanha



Cumpri todos os afazeres da querência, que me cabiam fazer: ovelhas presas no brete, ovos recolhidos no galinheiro, horta irrigada, a talha cheia de água, pintos presos, porcos alimentados, as labaredas aquecendo o fogão, cachorros soltos na volta da casa. Quando a tarde vai caindo sobre o rancho, esquento a água e deixo o mate pronto, tomo um banho e me perfumo de alfazema. Aos poucos vou ouvindo ao longe o galopear do pingo, trazendo sobre o lombo o patrão, o dono da casa, o provedor do lar. Ele chega com a expressão cansada, corpo suado, bombachas sujas. Com os mesmos trejeitos de sempre, vai tirando o chapéu e pendura na parede, o rebenque fica no mesmo prego, as botas no piso contra porta. Me dá um "boa tarde" tímido e me olha de canto, desabotoando a camisa e não se aproxima de mim antes de tomar um banho. Sai do banheiro perfumado, arrastando as alpargatas, de barba feita e cabelo penteado. Me puxa pela mão num golpe só, eu me levanto e ele me agarra na cintura, me abraça, me cheira e me beija, com os olhos cerrados, respirando fundo, sentindo o cheiro dos meus cabelos, da minha pele. Puxa a banca e senta ao meu lado, sirvo o mate e ele toma, descansado. Me fala da lida do campo, das vacas que foram banhadas, das ovelhas tosquiadas e do sol quente que castigou sua pele a tarde toda. Conto pra ele da lida da casa, do bolo e dos pães que estão prontos na bacia, do charque que ajeitei e deixei salgando na gamela. Depois do amargo, puxo as panelas para o centro do fogão, aquento a janta e sirvo o prato - que ele come saboreando, quase de olhos fechados, sempre elogiando meu esforço e meu tempero, que é só um: amor. Lavo os pratos enquanto ele apaga o fogo do fogão e vai trancando as portas, larga o cobertor sobre a cama e se aconchega. Apago as luzes e deito ao lado do meu amado, sinto suas mãos ásperas da lida tocando minha pele - e toda sua rudez se desmancha em afagos, fazendo da cama nosso leito.  

domingo, 1 de abril de 2012

Mosquito



Há dias tenho um companheiro em meu quarto, que me acorda com o bater de suas asas irritantes em meus ouvidos. Há noites ele tem sugado meu sangue, incansável, como se algo de saboroso existisse em mim. Um mosquito que carinhosamente apelidei de "Edward" me fez poeta nesta noite quente em que sinto minha pele suar ao ter uma manta por cima, na vã tentativa de me proteger da sede incessante que ele tem de beber meu sangue. Edward mal sabe que tenho escrito sobre ele e que a sua fugaz existência tem me feito pensar...Edward não se cansa de mim, presencia meus prazeres solitários, minhas conversas indecorosas no telefone e na internet, meu pensamento que viaja conforme as horas passam, solitárias e incessantes. Um simples mosquito que depende de mim para viver, que escolheu meu sangue para se alimentar, que escolheu me acompanhar pelas madrugadas...e, enquanto ele se alimenta, desperta em mim uma reação não agradável, que faz com que eu mesma machuque minha pele já cansada desses anos carregados de mágoas e desse dia-a-dia recheado de tédio. Enquanto Edward faz música para meus ouvidos e não se cansa de levar uns tapas, o travesseiro é que escuta minhas frágeis emoções. A face trinca e molha com as lágrimas quentes de um coração triste e que nada espera a não ser a morte. Por um momento, esqueço da presença de Edward e adormeço, sempre com a vontade de nunca mais acordar.

Enfim, o fim.



Pela primeira vez em todos esses anos eu não sei o que pensar. Não sei o que pensar. Não sei se estou triste e escondo isso por trás de um deboche. Não sei se estou enciumada e escondo isso por trás de um falso "não estou nem aí". A covardia bateu em minha porta e me dominou de uma forma tão forte que estou convencida de que não há nada que eu possa fazer para mudar essa situação. Ou existe algo que eu possa fazer para mudar tudo isso?? Por um instante achei que meu mundo caiu (e será que não caiu mesmo?). E lá no fundo eu ainda tinha esperanças e ainda terei, enquanto estivermos vivos. Enquanto estivermos vivos eu sei que lá no fundo, ainda que eu não queira, terei esperanças de um dia sermos "nós", outra vez. Eu estava certa de que era só fogo de palha, que ia passar como tantas outras passaram... mas não. O meu lugar em teu peito foi ocupado, o espaço vazio que eu deixei quando nos separamos foi preenchido e a última aliança que a tua mão sentiu era a nossa. Eu não esperava, mas doeu ver a tua mão com aquela imensa aliança dourada e vai doer ainda mais quando eu te ver casado, com um filho dela em teus braços. Vai doer quando eu te ver vivendo a vida (aquela que você me prometeu), com outra pessoa. E afinal, para que você entrou na minha vida?? Qual o saldo positivo dessa história toda?? Nenhum. Você entrou na minha vida para me roubar tudo o que eu tinha de melhor e para me transformar no que sou hoje: uma mulher fria, sem sentimentos, sem compaixão, desiludida, que não acredita no amor, não acredita na fidelidade. Uma pessoa sem esperanças de dias melhores. Sem sonhos. Sempre só, ainda que rodeada de pessoas. Então vai. Pode ir ser feliz que eu vou ficar aqui, eternamente tentando me levantar dessa rasteira, sair dessa fossa, exorcizar todo e qualquer sentimento que ainda exista por você.