segunda-feira, 28 de maio de 2012

Meu senhor? Sua escrava!



Não quero lembrar que ele tem todas as qualidades que eu julgo serem 
pré-requisitos para que um homem tenha um segundo da minha atenção.
Para que consiga meu interesse. Para que possa pensar na possibilidade de me ter.
Mas ele tem. Ele ME tem. 
As consequências dos beijos loucos e avassaladores dele tinham se perdido em meio à tantas memórias,
mas foi só ele se aproximar que eu recordei de cada milímetro daquela boca
que sempre chega revirando tudo. 
Atacamos (e não há melhor palavra para definir) um ao outro feito feras famintas e, 
embora anestesiados pelos melhores anestésicos e calmantes, nada pode nos segurar.
Me rendi de tal forma que ele arrancou o melhor de mim, 
inclusive o prêmio máximo (aquela carta que a gente guarda na manga, a surpresinha fatal).
Foi sem controle, instintivo, estremecedor, a mais pura luxúria.
Quem olha para aquele rosto quase tímido não conhece quem ou o quê mora ali dentro.
Só sei que ele sabe direitinho todos os caminhos que me levam aos píncaros mais pecaminosos
e enlouquecedores. Ele consegue me tirar do sério, descer do salto, esquecer de qualquer 
conceito, teoria, tese, trabalho, opinião, horário, compromisso, 
qualquer vida lá fora e naquela hora
não existe mais nada, o mundo realmente pára... 
Ele existe para me mostrar o que é bom e o que realmente há de bom.
Ele é o meu padrão de excelência. 
E o melhor de tudo isso (ou seria pior?) é que não chegou ao fim.
Na verdade, a gente nem começou...

domingo, 20 de maio de 2012

Momento derradeiro






Sentei na mesa de um bar. Caixas de som antigas tocavam exatamente o que eu não precisava ouvir naquele momento: canções bregas e velhas, que falavam de desamor.  Sem hesitar, pedi ao garçom que me desse a garrafa de uísque mais podre que ele pudesse encontrar e uma carteira de cigarro da marca mais forte possível, porque enquanto tivesse uma gota na garrafa eu estaria bebendo e enquanto tivesse um cigarro na carteira eu estaria fumando.
Era o meu quase suicídio lento e indolor.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um pouco de Leoa


Ela ainda está lá, dia após dia. Nas mesmas ruas da cidade em que nasceu, percorrendo sempre os mesmos caminhos, nas mesmas calçadas (ela tem medo de tropeçar nos caminhos em que não conhece). É daquelas que sabe muito bem o que fazer com um estojo de maquiagem e, como se num passe de mágica, transforma o rosto triste e cansado num rosto brilhante e encantador. Suas roupas tem aquele cheiro típico de roupa limpa, bem passadas e dobradas por mãos cuidadosas e, de tão impecável que ela é, seu perfume é inesquecível – apesar de já terem dito que ela continua bela mesmo nas noites frias em que ela não tira as pantufas de cachorrinho que ela tem desde a faculdade. 

É inteligente, escreve tão bem, trabalha, estuda, sai com as amigas e ainda arranja tempo para assistir a novela com a vó.

Ela adora cozinhar e faz desta tarefa uma arte, principalmente aos sábados de manhã. Incrementa, inventa, pesquisa novas receitas e está sempre convicta de que no final de semana não basta um feijão com arroz, embora não dispense uma miojo em noites preguiçosas ou um Xis do tio da esquina depois de uma noitada. Se expressa sempre tão bem que qualquer vagabundo entende o que ela quer dizer. Ela sorri quando na verdade queria gritar e berrar tão alto que acordaria a rua inteira. Adora gatos e cachorros, não quer mais casar e nem ter filhos (o desamor muda as pessoas) e não se importa ao pensar em morrer sozinha numa cama com 3 gatos e uma yorkshire, dentro de um quarto de hotel de um lugar qualquer. 

O primeiro sinal de que ela está se apaixonando é quando assina o próprio nome com o sobrenome dele. Ela faz isso desde a adolescência e hoje sorri quando se vê fazendo sempre a mesma coisa. Está aprendendo devagar e dolorosamente que cada coisa tem seu tempo.

Ela já viveu a vida com mais vontade. Gostava de dançar, de curtir, de viver. Era difícil encontrá-la em casa numa sexta-feira de noite, nem num sábado a noite. Domingo até vai, mas ela provavelmente estaria de cama, curando o porre da noite anterior e as vezes uma "ressaca moral". Ela sempre vai mandar em si mesma mas, vez ou outra, te dará a liberdade de escolher o sabor da pizza ou o CD que vai tocar. E se você disser que não gostou de alguma coisa ela vai ponderar, repensar, mas ao final sempre decidirá tudo por si mesma. Ela não muda por pouca coisa, mas vai tentar se você pedir com jeito, tiver paciência e conseguir vencer os argumentos dela. Ela cozinha a melhor lasanha do mundo, ela "te dá um baile" numa partida de uno, ela é uma menina dentro de um corpo de mulher e, como qualquer mulher, as vezes vai preferir uma tequila e um "descorno", e amanhã uma sopinha sem sair da cama. Ela é uma surpresa, ela adora surpresas.

Ela sempre prefere surpreender do que ser surpreendida. Ela tem que ter o controle da situação senão se sente perdida. Ela diz que não quer flores, mas se você mandar entregar um lindo buquê de tulipas vermelhas no meio do expediente, ela vai cair em seus braços. Ela adora o brilho dourado de um anel, mas dá um imenso valor para o bilhete que você deixou no espelho ou dentro da carteira e que ela vai achar dias depois. 

E todo mundo nota que ela é especial. Ele não nota, ele nunca notou.