sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Enigma Indecifrável

Enquanto ouço os acordes de guitarra psicodélicos daquela banda britânica tão familiar, perco tempo, perco a hora e quase sempre perco a cabeça na vã tentativa de encontrar uma palavra ou expressão que seja capaz de definir essa não-relação. Ele, enigma: "indivíduo cujas atitudes e sentimentos são indecifráveis", prefere sempre o anonimato, não corresponde às minhas investidas curiosas, despreza meus gostos políticos e minha medíocre inteligência do alto do pedestal em que se encontra, entre seus muitos títulos e possíveis condecorações caso uma guerra fosse deflagrada hoje. E no fundo do abismo que nos separa, tem uma química incontrolável que nos une. Tudo que desconheço de sua personalidade, conheço em centímetros quadrados de seu corpo. A não-relação que no passado distante se tratava de luxúria, álcool e drogas agora está a um passo da evolução. E não é uma evolução clichê, porque nada desde o começo aconteceu como os romances baratos prevêem. Está chegando a hora de colocarmos nossos desejos antigos em prática, tornar realidade os momentos idealizados e só então descobrir verdadeiramente a razão de tudo, desde o começo. Na vitrine, uma vida "normal"; nos bastidores dominador e dominada?

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Alta velocidade

O ponteiro que marca a velocidade não tem mais para onde ir, chegou ao fim da linha e treme como alguém tendo uma convulsão. Ela corajosamente coloca cabelos, rosto e braços para fora do carro e curte o vento no rosto de quando se está há mais de 200km/h. O volume mais alto do som toca uma música eletrônica que levantaria até um acamado de seu leito desprezível. E ela vai curtindo a batida, aproveitando os momentos em que a adrenalina anestesia as dores que ardem em seu coração. Volta para o carro e faz uma carreira de cocaína na mão mesmo e cheira como se inalasse o perfume dos Deuses! E onde essa noitada vai acabar? Não interessa! Ela só quer curtir sem pensar no amanhã e aceita correr os riscos, pois se o pior acontecer a lição que fica é a de que ela morreu tentando esquecer todo entulho acumulado em seu coração, morreu tentando juntar os pedaços de si mesma que foram se espalhando com o vento depois que ele partiu e a partiu... Ela não foi capaz de apagar as marcas, as lembranças, a saudade... e as carreiras cheiradas foram utopicamente poeira do seu próprio ser que ela inalou, na inútil tentativa de se restituir...

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Inconstâncias

As vezes relembrar é doloroso. Revivemos mentalmente aquilo que um dia vivemos realmente e não raro a nostalgia vem ao meu encontro. Então me pego aqui, querendo reviver o passado, voltar no tempo onze anos e aproveitar tudo outra vez. E beijar muito mais, apertar mais forte aquele homem nos meus braços, namorar seus olhares, arrepiar quando a pele dele encostava na minha, sentir novamente borboletas no estômago, sonhar e ser carinhosamente chamada de 'Deusa'. Reviver as loucuras de jovem casal apaixonado, essas lembranças hoje se tornam esperança, sei que o fim nunca existiu realmente; eu vou continuar esperando ele voltar até o meu último suspiro... mas minhas esperanças são tão infundadas, elas não tem do que se alimentar, sobrevivem apenas dos meus sonhos... Seria a mulher mais feliz do mundo se ele desse um sinal, um sim, um "me espera", mesmo que nunca aconteça, me bastaria sonhar com isso a vida inteira...Quanta coisa eu fiz pra esquecer e nunca consegui... será que era pra esquecer mesmo? 



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Pequenas Coisas

E foi então que eu me vi aqui, tentando encontrar a felicidade nas pequenas coisas porque olhando de uma maneira geral o quadro é desesperador. Alegria é ficar em casa trancada o dia todo, com as cortinas fechadas, um filme na TV e me perdendo ao perder incontáveis minutos navegando aleatoriamente na internet. Alegria é ver meus gatos pedindo carinho e eu saber que tenho muito para dar, mimar eles o dia todo, dormir com eles, ve-los brincar e me olharem com aquele olhar que diz "te amo", mesmo sem falar... Alegria é ver as pequenas descobertas sobre mim mesma a cada seção com o psicólogo. É ter a medicação para depressão diminuída. É chegar cedo em casa e curtir a minha própria companhia, sem pressão, sem pressa, segura de que ali é o meu espaço no mundo. É ter um homem que me ama da maneira mais descomplicada possível, que faz o impossível pra me ver sorrir, que me compreende como nenhum outro ser humano no mundo é capaz de compreender. É pagar a última prestação de uma conta, é o cheiro da casa limpa e eu de banho tomado, esperando o tempo passar enquanto degusto um chimarrão. Felicidade é não ter problemas de saúde, é saber que aqueles que eu amo estão bem, que a vida está passando tranquilamente apesar de muitas vezes eu enxergar defeitos em tudo. É ter pai e mãe sempre por perto! Eu me esforço muito para ver sempre o lado positivo das coisas, embora meu mapa astral seja dominado por capricórnio, o signo mais pessimista do zodíaco. Porque nesta vida temos duas formas de encarar as coisas: ver o lado negativo de tudo ou o lado positivo. Não tenho grana pra fazer a viagem dos meus sonhos, mas tenho casa, trabalho, saúde, faculdade gratuita... Não tenho a aparência que eu sonho em ter, mas estou correndo atrás para melhorar. E a vida vai continuar tendo seus altos e baixos, o lado ruim e o lado bom de tudo. O que define se ela vai ser leve ou complicada é como a enxergamos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sem resposta

Qual o sentido da vida? Busco me encontrar, achar o meu lugar, a minha missão e só me perco dentro de mim mesma, entro em labirintos que me levam a caminhos tortuosos, e eu grito, mesmo em silêncio, e respondo que está tudo bem enquanto meus olhos clamam por ajuda, mas ninguém sabe decifrar... e então eu sigo caminhando, engulo a dor e as perguntas sem respostas, esboço sorrisos amarelos e visto a fantasia de que sou uma pessoa normal. Mas lá dentro eu só queria um bar, tocando rock pesado, bebidas fortes e um som tão alto a ponto de abafar meus gritos, porque eu nunca quis tanto gritar na minha vida como agora... me deem todos os cigarros do mundo, drogas leves até as mais fortes, qualquer coisa que acalme minha mente inquieta e sedenta por respostas, sedenta por experiências que me façam transcender a mim mesma, tocar o sobrenatural, entender o porquê de tudo! Eu só quero me entender, compreender a razão das coisas serem como são, o porquê de eu estar aqui, nesta era, neste tempo, nesta vida... estou cansada de tentar me encontrar e só me perder... cansada de tanta falsidade, de pessoas que dizem estar do teu lado e não te oferecem cinco minutos de seu tempo, cansada de pessoas que se julgam detentoras da verdade e que sempre pensam ter razão em tudo! Estou farta de tudo, da minha vida, da minha busca, dos desencontros, da rotina, da escravidão em nome da sobrevivência, eu quero ser livre! Eu quero respirar, eu preciso de ar! Preciso de vida!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Breu



Minha alma está morta. Não reajo à mais nada, embora meu corpo continue respirando e meu coração batendo, mecanicamente, sem sentido algum. Estou cansada de lutar contra a depressão: nessa queda de braço eu sempre perco. Então, chega de mostrar ao mundo que está tudo bem, enquanto lá dentro está tudo sujo, bagunçado e pixado. Todos me perguntam se está tudo bem, respondo "mais ou menos" e então perguntam de novo "o que houve?" e eu digo "nada, e este é justamente o problema". Eu tenho todos os motivos pra sorrir, segundo o senso comum. Tenho casa, trabalho, faculdade gratuita, família, amigos (esses não tenho mais certeza de que ainda estão lá). Talvez realmente eu tenha muito, talvez eu tenha realmente a vida que muitos gostariam de ter. Mas a depressão é isso, mesmo tendo uma vida quase perfeita, você não consegue ser grato, não consegue ser feliz com isso, pois não é o suficiente. E se me perguntarem o que falta, o que eu queria, não sei dizer. Depressão é estar infeliz o tempo todo, mesmo tendo tudo, e não saber dizer o que te faria feliz, ou o que faria você se sentir melhor. Me sentiria mais confortável se eu estivesse completamente sozinha, no meio do nada, tendo por companhia apenas livros, animais e a natureza... talvez assim eu conseguisse resgatar a minha vontade de viver. O fundo do mar é tão escuro...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Banalidades

Os anos passaram sem que eu pudesse controlar a torrente de acontecimentos que me trouxeram até aqui. A vida foi fluindo feito rio durante uma tempestade e eu fui tentando me acomodar em meio a correnteza, que passou rápido demais, mal pude observar a paisagem e agora aqui estou: saindo da casa dos vinte anos para entrar nos trinta. A maturidade nos fazer perder a paciência para muitas coisas, inclusive para pessoas e relações complicadas. Adultos, perdemos o tato para a sensibilidade alheia e nos tornamos práticos demais, querendo resolver as coisas rápido para podermos descansar na frente da TV e dormir em paz. Dez anos atrás era totalmente abominável ficar em casa em um sábado a noite assistindo TV, agora é o paraíso. A jovialidade deu espaço à responsabilidades infinitas! Não podemos perder a hora, não podemos faltar ao trabalho, nossos recursos são limitados para aproveitarmos a vida como deveríamos aproveitar. Não se vive plenamente, é um corre-corre em meio a correnteza... Quando percebo que tudo está mecânico demais, observo a paisagem da janela do trem. Abro a janela para a luz da lua entrar enquanto penso: o que me fez estar aqui, neste lugar, nesta vida, nesta casa, nesta família, neste relacionamento, neste trabalho? E essas são perguntas sem respostas, apenas me abro para que o Universo me ensine o que preciso aprender para evoluir. Me entristeço enquanto tento achar sentido para tantas coisas... e maioria delas não tem. Então, procuro encontrar a felicidade nas pequenas coisas: livros, filmes, momentos com quem eu amo, surpresas agradáveis e banais do dia a dia. Não sei se a vida pode ser mais do que isso.