segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Alta velocidade

O ponteiro que marca a velocidade não tem mais para onde ir, chegou ao fim da linha e treme como alguém tendo uma convulsão. Ela corajosamente coloca cabelos, rosto e braços para fora do carro e curte o vento no rosto de quando se está há mais de 200km/h. O volume mais alto do som toca uma música eletrônica que levantaria até um acamado de seu leito desprezível. E ela vai curtindo a batida, aproveitando os momentos em que a adrenalina anestesia as dores que ardem em seu coração. Volta para o carro e faz uma carreira de cocaína na mão mesmo e cheira como se inalasse o perfume dos Deuses! E onde essa noitada vai acabar? Não interessa! Ela só quer curtir sem pensar no amanhã e aceita correr os riscos, pois se o pior acontecer a lição que fica é a de que ela morreu tentando esquecer todo entulho acumulado em seu coração, morreu tentando juntar os pedaços de si mesma que foram se espalhando com o vento depois que ele partiu e a partiu... Ela não foi capaz de apagar as marcas, as lembranças, a saudade... e as carreiras cheiradas foram utopicamente poeira do seu próprio ser que ela inalou, na inútil tentativa de se restituir...