Um gaúcho com um chapéu de abas
largas bem enfiado no rosto, bem preso por um barbicacho surrado pelo tempo,
pelo sol e pelo suor da lida campeira de cada dia. Um chapéu daqueles que
esconde o semblante do rosto. Que esconde, por timidez, seus olhares curiosos
quando me vê passar. O bigode, sempre bem feito, junto à barba espessa disfarça
sua fala cujos lábios não posso ler, mas não esconde por completo seu belo
sorriso quando me avista ao longe. A pele sempre bronzeada e até queimada por
permanecer ao sol durante longas horas, não cedendo, por macheza e grossura
meus apelos para se proteger. A bombacha sempre bem larga, para não atrapalhar
a lida, seguido pede uns remendos que faço com carinho, pois nem sempre
consegue desviar os espinhos do arame ou do campo. O cinto ele pendura no prego
atrás da porta; a mala de garupa repousa sobre o pelego que cobre o banco. As
botas chegam sempre embarradas, denunciando que o campo ainda não secou depois
da chuvarada de agosto. Os músculos sempre fortes, trabalhados pelas laçadas
diárias, pelas marcações que exigem força para segurar o gado e a faca nunca
sai da cintura, pois como ele mesmo diz: “tem que andar protegido caso algum
atrevido resolva se passar”, nunca se aperta se precisa comer uma laranja, ou
se resolve sangrar uma ovelha para comer com mandioca junto aos parentes. Não
se micha numa briga, nem teme um touro bravo, a madrugada é sua companheira,
não deixa o serviço por fazer. Da vida nunca reclama, um cusco baio sempre o
acompanha e o pingo é seu braço direito. Este é um gaúcho de respeito.
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