terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fundo do poço


Não me pergunte como eu vim parar aqui nesta noite fria, usando apenas um sobretudo, vestido curto e uma bota, batom vermelho nos lábios e um rímel borrado. Não importa se eu peguei um táxi ou uma carona de alguém que achou minhas pernas bonitas e me convidou para entrar no carro. Eu não sinto frio, nem fome, nem sono. Eu não sinto nada.  Não me pergunte o porquê do meu coração estar partido e tudo que eu consigo e quero ver na minha frente é um copo de uísque sem gelo, ou uma vodka, ou qualquer outra bebida forte que faça com que eu perca a cabeça, caia no chão e vá parar em qualquer lugar. Sim, é isto mesmo que eu vim buscar neste bar repleto de homens que me olham inescrupulosamente: um pouco de álcool, um tempo pra pensar, uma poltrona confortável, um cinzeiro e muitos cigarros, um blues tocando sem parar, pois quando eu ouço um som desses penso em ocupar rapidinho o espaço que ele deixou vazio. Ele partiu da minha vida como se eu não fosse nada, fosse um móvel velho que ele jogou na calçada e adeus, ou como um cachorro que ele largou na rua, ou um livro velho que ele já leu e conhece todas as páginas e não se importa com o final. Para ele tão simples e para mim tão complicado. Quero mais é encher a cara, fazer desta maré ruim minha nova morada, sem sair deste lugar: quero é sofrer, chorar, cuspir toda a dor que sinto de todas as formas que conheço de autodestruição. Vou subir na mesa e dançar para todos os homens que me quiserem, entregar meu corpo para o primeiro que passar, entrar em qualquer carro que me pegar, dormir em qualquer cama que me oferecerem e até na sarjeta. Quando sofremos uma recusa de alguém que amamos é como se nós mesmos nos recusássemos. Então pouco importa que mão imunda vá te tocar, que boca você vai beijar e para quem vai se entregar. Pouco importa se vai acordar amanhã, onde vai acordar, onde dormiu, o quanto de álcool você tomou. Essa fossa dura o tempo que for necessário para você entender que quem perdeu não foi você, mas quem não te quis. E se não te quis foi porque não te merecia.

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