quarta-feira, 15 de abril de 2015

A adolescência de Anabela

Os dedos dela eram frios na extremidades, as unhas curtas de tanto roer não perdiam o esmalte escuro, mãos pequenas e frágeis, quase sempre ajudando o cabelo e o capuz a esconder o rosto. O mundo dela não era aquele em que ela era obrigada a viver todos os dias, era um ser deslocado, que claramente não pertencia àqueles lugares. O cabelo ruivo natural, a postura encolhida sempre procurando um canto escuro, o fundo da sala de aula, sempre nos bastidores, nunca em evidência. Ela tecia sonhos enquanto o professor falava de álgebra, o corpo franzino escondido atrás das roupas largas dançava em um campo verde e florido, enquanto ela sentava encolhida no banco do metrô. Essa era Anabela, uma adolescente incomum, dotada de uma mente fértil, de sonhos inocentes, tímida, poucos amigos e uma espera infindável pelo príncipe que chegava em todos os contos de fada, para tirá-la daquele esconderijo. Anabela era uma daquelas pessoas que nunca se sentia a vontade perto e outras pessoas, porque detestava ter que sorrir, quando na verdade queria correr. Despia-se do disfarce quando fechava a porta do quarto e ousava dançar um balé, sorrindo, cabelos soltos e roupas despojadas, em meio aos seus discos e livros, estatuetas e poemas grudados na parede. Era especial pela sua singularidade, temia as pessoas como um cão maltratado que ataca, sem conhecer. E o resto da história você já conhece.

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