segunda-feira, 23 de março de 2015

Os lírios morreram

A chuva caía lá fora dando asas à minha imaginação e deixando meu olhar distante, distante de tudo. Em minha cabeça muitos pensamentos dançavam como uma bailarina na mais linda apresentação de balé já vista. E eu me perguntava quando foi que me perdi de mim e quando foi que me perdi de tantas pessoas que eu gostava... A chuva continuava caindo e os respingos na vidraça por ora pareciam um mapa, capaz de me levar às respostas de todas as perguntas que eu ainda tinha, mesmo após tantos anos terem se passado. Eu ficava sentada naquela cadeira por horas, trancada naquele quarto com todos os meus livros e velhos papéis na minha volta, quase que formando um cobertor de memórias que me aqueciam agora que o vazio deixava tudo tão frio. Foi quando encontrei um velho bilhete em uma folha de caderno, amassado e escondido. Era um bilhete que ele tinha me escrito há dez anos atrás. Lá dizia: "Quantas vezes vou ter que te dizer que não te amo mais? Você precisa entender isso! Não me telefone, nem mande e-mails, a gente não vai mais se ver". Aquelas palavras cortaram minha carne pela milésima vez e cortariam se eu lesse mais mil vezes, caso não tivesse destruído aquele papel com fogo, na vã esperança de que ele queimasse todas as lembranças junto. Senti minha boca entreaberta ao lembrar daquele beijo que jamais teria outra vez e as lágrimas quentes percorrendo caminhos entre as poucas mas já presentes rugas do meu rosto. Como é difícil entender a vida, entender a morte, entender o que sentimos e entender quem não é capaz de retribuir o amor que o outro sente. Dói ver que o tempo matou aos poucos o sentimento mais puro que já existiu dentro de mim, o amor mais verdadeiro que eu poderia ser capaz de sentir... era como os lírios cor de sol que ele me deu quando meu pediu em namoro: plantei, mas por mais que eu cuidasse, por mais carinho que eu tenha lhes dado, eles desistiram de mim e morreram.

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