segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Ainda... Anabela

Anabela, tão bela, acende mais um cigarro e o traga vagarosamente enquanto observa as unhas vermelhas meticulosamente pintadas na noite anterior. Não contente com a nicotina, abre a geladeira e serve uma dose de um uísque barato, que foi o que deu para comprar. Duas pedras de gelo, naquele ritual de reflexão que ela faz, embora odeie pensar sobre seus dias, sua rotina e reze para esquecer a cara escrota de alguns clientes. Seu corpo exala um odor fétido de sexo, a cama implora para que os lençóis sejam trocados. Naquele dia foram 7 clientes, o negócio estava crescendo e ela nem lembrava mais o gosto de um beijo apaixonado. Anabela, embora fosse uma puta, quando vista na rua ninguém diria que ela tinha essa profissão. Ela era graciosa, corpo delicado, pele branca e bochechas rosadas. Usava vestidos soltinhos, com estampa de flores do campo e um relicário, que só Deus sabia o rosto que continha lá dentro. Ela cheirava à essas mesmas flores que estampavam seu vestido e diziam que ela tinha ares de boneca. Mas quando a noite caía, a moça delicada ficava dentro do guarda roupas. Encarnava o personagem que lhe garantia o sustento: roupas curtas e coladas, batom vermelho e decote avançado.

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