domingo, 26 de agosto de 2012

Psicodelia



Cigarro entre os dedos, barba por fazer, unhas amareladas e gastas das cordas do contra-baixo, do violão e da guitarra, seu corpo magro e de pele tão branca quanto a minha, um copo de uísque sempre pela casa, ora vazio, ora cheio. A gente fazia amor ao som de Pavarotti e Bono Vox, ou então Marilyn Manson e Rammstein e depois de tudo acabado ele acendia uma cigarrilha e eu deitava no peito dele, curtindo a "vibe", suspirando e conversando banalidades, palhaçadas mesmo, com o cérebro anestesiado. Ele era aquele tipo de cara que fala pouco, tom de voz baixo, cara amarrada mas que se desmontava em sorrisos junto comigo; a gente ria de tudo, jogava uno e brincava de adivinhar quais propagandas de TV viriam depois. Eu tocava violão e ele bateria, ensaiávamos nossas próprias canções, sonhando com uma banda de dois, em ser um casal famoso, cheio de grana, fama, sucesso, limousines e viagens, autógrafos, fotos, cassinos, tudo que essa gente com grana faz. Éramos como esses casais incomuns que vemos pelas ruas, ele cabeludo e eu com cabelo rosa e piercings e tatuagem por tudo, uma dupla que vivia à parte desse mundo cruel, fora da realidade, alienados. Mas ele se cansou dessa vida, aquela que a gente levava de estar sempre junto, resolveu curtir umas paradas barra pesada e, no começo, eu até acompanhei mas vi que não dava pra mim. Discutimos algumas vezes, tapas e socos não foram poucos, ele se transformou num cara agressivo que me chamava de puta, piranha, vadia, só porque eu não queria entrar na "onda" que ele tinha entrado. Peguei minhas coisas e saí daquele apartamento e só voltei pra achar ele convulsionando em plena overdose. Ele morreu nos meus braços, na minha cara e eu me senti a criatura mais impotente do mundo, não somos nada. Somos grãos de areia diante da morte porque não há nada que mude nosso destino quando ela chega. Aquele cara partiu e eu segui minha vida, ainda compondo por ele, tocando guitarra com ele no pensamento e o nome dele tatuado no meu braço. Ele era estranho, diferente, marcante. Éramos um do outro. 

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