Quantas cartas encontrei, onde lá
estavam escritos todos os meus sentimentos, mas que, por acaso ou descuido,
nunca foram enviadas. Achei dias arrancados de uma velha agenda, dias que eu
queria, na época, esquecer, mas que por algum motivo, não joguei fora (vai ver
lá no fundo não queria esquecer). Encontrei saudade ao ver a letra em velhos
bilhetes de quem já se foi e chorei, de saudade e por não ter dado mais atenção
enquanto podia. E aí me encontro aqui, limpando caixas que com elas levam um
pouco do que eu fui, do que eu gostava, uma limpeza dolorida, como se levasse
junto pedaços meus, uma limpeza motivada porque um dia alguém disse que, para
novas coisas entrarem, as velhas precisam sair. Não devia ter feito isso hoje,
num dia tão difícil de engolir, que passou atravessado na minha garganta e
embrulhando o estômago porque as horas não queriam passar. E de onde vem essa
tristeza? De onde vem este sentimento de solidão e nostalgia que me derruba como
uma rasteira? E depois de estar no chão de novo, como me reerguer? Escrevo. Ao
escrever, vomito aqui esse dia tenebroso que está até agora entalado na minha
garganta, esse mau pressentimento que me persegue, o abandono, a lentidão do
relógio, aquele sentimento de ser esquecida. Vomito, GRITO minha dor sem
gritar, rasgo a minha carne, o meu eu e me mostro, humana, insana.
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