domingo, 8 de dezembro de 2013

Feridas





Eu ainda quero ser o ser negro e solitário que vaga pelas ruas nas madrugadas frias e sombrias com as névoas de julho. Ainda quero ser o mendigo jogado na calçada, sujo, indigno de um olhar de carinho, ignorado pelo sistema e por todos que por ele passam, mas não pelos cães que também tem a rua como lar. Ainda quero remoer todas as palavras não ditas, todos os sentimentos engasgados na minha garganta e gritar que dói, dói demais ser vítima de julgamentos alheios. Hoje eu entendo quem se isola do mundo, que se esconde debaixo das cobertas, quem foge sem rumo. Entender e se fazer entender exige cortes, exige dores, lágrimas e desespero. Enquanto tudo desmorona, queria virar a bola velha da criança da vila que desceu rua abaixo na água da chuva forte que caiu.

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