Eu ainda quero ser o ser negro e
solitário que vaga pelas ruas nas madrugadas frias e sombrias com as névoas de
julho. Ainda quero ser o mendigo jogado na calçada, sujo, indigno de um olhar
de carinho, ignorado pelo sistema e por todos que por ele passam, mas não pelos
cães que também tem a rua como lar. Ainda quero remoer todas as palavras não
ditas, todos os sentimentos engasgados na minha garganta e gritar que dói, dói
demais ser vítima de julgamentos alheios. Hoje eu entendo quem se isola do
mundo, que se esconde debaixo das cobertas, quem foge sem rumo. Entender e se
fazer entender exige cortes, exige dores, lágrimas e desespero. Enquanto tudo
desmorona, queria virar a bola velha da criança da vila que desceu rua abaixo na
água da chuva forte que caiu.
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