quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Último pedido

E aí você luta. Aquela velha luta diária de sempre. Nascemos, crescemos e nesse trajeto temos uma família que nos protege e nos orienta. Educam-nos, alimentam-nos, nos ensinam o que é certo e o que é errado, conforme seus próprios julgamentos. Chegamos na adolescência e tudo que mais sonhamos é com a liberdade, sair da escola e poder trabalhar, ter nosso dinheiro, nossa casa, nossas regras. O inferno maior é quando ouvimos: "Enquanto você estiver debaixo do meu teto, tem que me obedecer". E aí nos fechamos no quarto, escutamos o rock mais pesado e, por vezes, pensamos em fugir ou morrer. Depois vem a faculdade e o gostinho da liberdade. Ficamos presos ao jugo dos estudos e só lutamos para chegar ao fim do semestre sem pendências. Morar longe de casa, mas ainda depender da grana dos pais, trabalhar na universidade por uma mísera bolsa, sobreviver com miojos, xis e cachorro quente, muita festa e cerveja, muita gente pra conhecer. Os anos voam e num piscar de olhos já é a formatura. Que momento alegre! Livres dos trabalhos, das provas, dessa obrigação toda em que nos vimos envolvidos por tanto tempo. Hora de voltar pra casa e descansar. E é nesse momento que a vida adulta bate na nossa cara. A vida alegre passou, é hora de assumir as responsabilidades. Caímos no saturado mercado de trabalho e nem sempre conseguimos algo na nossa área, as portas nem sempre se abrem. Daí surge, do nada, a oportunidade da nossa vida e nosso espírito jovem e aventureiro não pensa duas vezes: abre mão de toda tranquilidade em busca do sonho almejado e o céu é nosso limite. Deslumbramo-nos com a liberdade de morar sozinho, ficamos loucos com as contas para pagar (sozinhos também), a vida é corrida, muito trabalho e quando chega a sexta-feira é só festa... Segunda a gente recomeça, estuda para se aprimorar, aprende a amar o que faz e tornamos nosso trabalho, nossa vida. O salário nos leva para um mundo sem miséria, comemos em bons restaurantes, nos vestimos bem, frequentamos os melhores lugares, praias, festas. E daí pensamos e todos pensam: "Bah, essa guria alcançou o sucesso na vida". Quando achamos que tudo está dando certo, não há como dar errado, o mundo simplesmente vira de cabeça para baixo. A queda é imensa, o tombo dolorido e nem sempre encontramos forças para continuar. O temporal chegou e com a enxurrada foi embora o emprego tão amado, o status, o salário, os bons restaurantes, os planos, os passeios, as viagens, a autonomia. Nos roubam os sonhos, a alegria, a vontade de viver. Os dias passam sem sentido. Como se só isso não fosse ruim o suficiente, o coração que vinha vazio e aproveitando a vida, cai de quatro por alguém que o tratou com carinho. A paixão bateu e com a desilusão, vem a dor, o ódio próprio, as lágrimas sem fim. O dinheiro acaba, a solidão bate, nos sentimos como ratinhos acuados sem saber para onde correr. Será isso o que chamam de fundo do poço? Quem disse que crescer era bom? Quando essa nuvem negra vai passar? Será que conseguimos suportar tamanho fracasso? Como recomeçar? 

Daria tudo para voltar a ser criança.

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