sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O culpado



Pronto, já me curei, vou seguir em frente. Foi pensando assim que eu marquei um encontro. A ideia era abrir-se à novas possibilidades, afinal, existem 7 bilhões de pessoas no mundo! Boca vermelha, ouro nas orelhas, perfume caro no pescoço e lá fui eu, tentar de novo, dar uma chance para mim mesma. Mas quando ele me beijou, a comparação começou a martelar na cabeça: o beijo dele era melhor, o toque era mais suave, tinha carinho, sentia o coração pulando, ele era perfumado, cabelo sempre arrumado, palavras doces e o tempo voava. Naquele momento, o tempo não andava, as críticas passavam feito filme na minha cabeça. Nada era bom, nada estava à altura do que eu queria e esperava; eu queria uma revolução, queria me reapaixonar naquele ato e que o passado ficasse de vez no passado. Só que não. Tratei de inventar uma desculpa e fugir dali, como se tivesse cometido um crime, lavei minha boca como se estivesse suja, tomei um banho e esfreguei minha pele com força, como se isso pudesse apagar a minha tentativa falha de seguir em frente. E no retorno, andar por aquelas ruas me fez lembrar daquele que tinha invadido minha vida de fininho, sem nenhuma pretensão e dos momentos maravilhosos e especiais que eu vivi com ele. Já chorei na cama, no trem, no ônibus, no colo de mãe, mas nada alivia, nada cura. Depois de anos me protegendo para não sentir nada, sem me apegar, eu entrei naquele barco certa de que estava imune e de que nada iria me abalar. Só que, em algum ponto, eu perdi o controle. EU perdi o controle! Quando pensava em ficar sem ver ele, logo despistava o pensamento por crer que eu estava fazendo tudo certinho e que não teria como isso acontecer. Mas meu ar de tristeza de agora, minha pose de princesa desmontada, meu olhos com rímel borrado, só evidenciam o quanto me enganei. Minha cabeça roda num turbilhão de perguntas, numa vontade louca de achar nele alguma culpa, só que não encontro. Ele sempre me avisou, sempre deu o sinal amarelo e eu não parei, nem ao menos reduzi. Quero falar mas as palavras vão falhar na frente dele, quero tocar mas não sei mais se posso, quero tudo de volta mas algo me diz que nada será como antes. A dúvida, o medo, a perda mancharam o que era puro e bonito. É como se eu tivesse aos poucos me jogado num mar de lama sem perceber e agora estou presa aqui, no que eu chamaria de fundo do poço ou o mais próximo disso. Não consigo ver a luz, nem uma saída de emergência, nem um braço (ou abraço) que me tire deste breu que eu mesma me atirei. De repente, encontrei o culpado disso tudo na frente do espelho. 

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