segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E se a vida de repente acabasse?


E se a vida de repente acabasse? Como num relógio que acaba a pilha e os ponteiros param de andar? Ou como num carro que acaba o combustível e ele simplesmente para, não importa o quanto você esteja apressado? Se a minha vida acabasse agora, ficariam os boletos e as encomendas que ainda não chegaram enchendo minha caixa de correio. Ficaria o sonho de fazer outra faculdade esquecido. Os filhos que eu tanto quero ter, o sonho de entrar na igreja toda de branco, o sonho de ter uma vida que eu costumo chamar de “medíocre”- tudo parado no tempo. Quem sabe até “o cara”, aquele que eu estou esperando a vida inteira para viver ao meu lado, nem chegasse a me conhecer. E daí ele teria que bolar outro plano, achar outra parecida comigo para não ficar sozinho. Minha mesa no trabalho ficaria vazia, mas meu lugar logo seria preenchido porque tem muitas profissionais esperando para pegar o meu lugar. As roupas e calçados novos ficariam me esperando para viverem muitas coisas juntos, guardados em caixas e cabides, entristecidos por não terem completado o fim a que vieram neste mundo. Perfumes, cremes, shampoos pela metade, ainda com meu cheiro, com minhas marcas. Cremes que envelhecem em seus frascos por eu nunca ter tempo ou ânimo de usá-los, a menos que eu vá encontrar alguém importante que vá cheirar minha pele. Todas as minhas coisas passariam a ter novos donos, provavelmente pessoas queridas que estivessem tristes com minha ausência, mas minimamente confortadas por poderem ficar com algo que era meu. Objetos que um dia ou todos os dias vão olhar e lembrar-se de mim. Sei que muitos sentirão demais a minha falta, mas os dias inexoravelmente passarão, a dor vai dando lugar a saudade e esta saudade vai passando, pois a vida de cada um teria que continuar. E assim somos: simples animais que do nada vieram e para o nada voltarão. Somos obras de um acaso, que uniu um óvulo e um espermatozoide e por estarmos vivos temos que tornar os dias aqui os melhores possíveis. Em um triste momento esta máquina vai parar e entramos novamente na cadeia alimentar, não como predadores, desta vez somos como presas, servindo de alimento para outros. A morte é só um coração que para de bater, mas acaba com muitos corações que ficam. E a vida é mais frágil do que um cristal.

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