quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Opressão

Era madrugada quando o telefone tocou. Ela acordou em sobressalto, assustada, não sabia de onde vinha aquele som e demorou até conseguir abrir os olhos e entender o que estava acontecendo. Correu até a sala, cambaleando, embriagada pelo sono profundo em que se encontrava e quando atendeu, do outro lado da linha tinha um homem sedento de atenção. Ele falava sem parar no quanto queria e precisava vê-la naquele momento, do cansaço da viagem, que precisava do cheiro dela, da pele, do toque. Ela hesitou por um momento, ao pensar nas responsabilidades da manhã seguinte, do relógio que inevitavelmente despertaria às 6 horas da manhã e ela não teria a chance sequer de dormir mais 5 minutos. Mas dado o contexto de sono e fragilidade por ser acordada de forma tão brusca e inconveniente, se considerássemos a forma peculiar que ela tinha de ser tão permissiva com os homens, de colocar-se sempre à disposição, de pensar que nasceu para cuidar e satisfazer um deles, aquele coração mole não permitiu que da sua boca o “não” latente pudesse sair. Disse que aceitava recebê-lo, embora nem todos os vizinhos estivessem dormindo e o apartamento bagunçado, malas pela sala prontas para a viagem de quatro horas que lhe aguardava na noite seguinte. Em menos de 15 minutos ele chegou, não hesitou e nem se importou com o movimento alheio ao segurar seu corpo com força e calor. Pouca conversa e ação: ele estava sedento pelo corpo dela, cheio de desejo, queria desfrutar dos atributos e qualidades que só ela tinha. Ela saciou toda vontade dele, revigorou a vontade dele de viver. Como numa visita de médico, ele se vestiu e tratou de ir embora, afinal já estava muito tarde e ele também tinha compromissos, com a desculpa de que ela tinha que dormir, embora ela não tivesse dito nada. Ela nada falou, um beijo sem graça de despedida, bateu a porta, acendeu um cigarro e passou as próximas horas insone, fumando desmedidamente, tentando lidar com a culpa que sente por lhe faltar amor próprio, por ser tão flexível, colocar sempre os desejos do outro em primeiro lugar e sendo levada a fazer tudo que seu homem quer. Adormeceu. Celular desligado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário