sábado, 6 de outubro de 2012

Uma noite trágica

A noite está fria, o drink praticamente virou em nada depois que o gelo derreteu, enquanto ela brinca, demoradamente, com os dedos na mesa sobre a água que escorreu do copo. O relógio no pulso parou, o bar está esvaziando e ela têm acendido um cigarro à cada cinco minutos nas últimas horas. O rímel borrou com as lágrimas que rolaram e que ela rapidamente secou: chorar é para os fracos e covardes. Ela não se permite chorar, ela não admite chorar, mas as lágrimas simplesmente não a obedecem mais. O combinado era se encontrar às nove, já passa das duas horas e muita gente entrou por aquela porta, menos quem ela esperava. Enquanto a raiva corrói o que lhe resta de educação, ela tenta decidir se enfia a mão na cara dele até sangrar ou se quebra todo o carro, que ele protege mais do que seu membro genital. O que causará mais dor? O que vai acabar com o ego dele? Pouco importa se ele vai odiá-la depois do barraco que vai acontecer, homem que tenta fazer ela de boba sempre se ferra. Os ponteiros no relógio não param, as pessoas riem e conversam, o garçom já limpou o cinzeiro umas três vezes e a comanda está cheia, tanto quanto ela está cheia dessa vida de mendiga, que se contenta com migalhas, com encontros que tem hora para começar e terminar, com tanta manipulação, insubordinação, ela está cansada dos sorrisos enferrujados que brotam em seu rosto enquanto sussurra um "sim" contendo o grito do "não". Ele fica bravo se ela não faz o que ele quer, se ela não dá o que ele sempre vem buscar, se ela pede só um pouco de romantismo em vez de tanta sacanagem. São quatro horas da manhã, ela levanta, se recompõe, pega a bolsa, paga a conta e vai embora, certa de que isso não vai continuar.

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