segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mais algumas dúvidas

Qual a linha tênue que divide se eu fico ou se vou embora? Afinal de contas, o que me prende dentro dessas paredes, dentro dessa relação que por vezes é tudo e em outros momentos só me causa dor e infelicidade? Para que lado a balança está pesando agora? Estar aqui e nisso aqui me dá mais alegrias ou dores? Quanta falta faz o doce sabor do vento no rosto enquanto batia asas livremente? Quanto não faz falta as noites sozinha, em que a solidão e o medo me obrigavam a fazer do som da TV minha companhia? Quanta dor me causa o peso do machismo ou quanto prazer me dá fazer as coisas para agradar? No espelho é que não me encontro. Talvez eu tenha me reinventado como uma mulher tradicional e recatada a fim de me adequar melhor aos dias de hoje, criando um paradoxo diante da mulher que eu era outrora. Sinto como se em algum momento eu vá explodir, rompendo essa couraça de boa moça e o monstro promíscuo e sem amor a vida vai ressurgir. Quem eu quero ser? Qual delas me dá mais prazer? Correr riscos ou viver uma rotina tranquila e previsível? Dúvidas que me consomem, me corroem e enlouquecem.

Um comentário:

  1. Eu e minhas ilações matutinas. Li esta postagem e lembrei da Lya Luft, não das suas inquietudes históricas, nem da sua posição ideológica. Lembrei por que dia destes assisti a um documentário da Antônia Pellegrino, que me conectou ao fato de ser neta do Hélio Pellegrino, que esteve casado com Lya por três anos, até sua morte. Quando deste episódio, da morte de Hélio, aí sim as ilações - ocorreu-me num lugar desconhecido da memória que Lya escreveu um poema que sobre o Adeus, que abaixo transcrevo, que conectou-me às dúvidas.:

    Insensato eu estar aqui, e viva.
    O rosto dele me contempla
    vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
    em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
    Insensato, isso de sobreviver:
    mas cá estou, na aparência inteira.

    Vou à janela esperando que ele apareça
    e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
    que ao acordar esteja ao meu lado
    e que ao telefone seja sempre a sua voz.

    Sei e não sei que tudo isso é impossível,
    que a morte é um abismo sem pontes
    (ao menos por algum tempo).

    Sobrevivo, mas pela insensatez. (...)

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