sábado, 15 de junho de 2013

Um amor louco



Lembro dos teus olhos de menino, quase escondidos entre os cabelos compridos, o corpo magro e franzino, desengonçado em quase dois metros de altura. O que um esbarrão, por desatenção, descuido, não faz? Foi só um empurrão sem querer, um pedido de desculpas e nunca mais você saiu da minha vida. O beijo de parar o trânsito e perder o fôlego, em meio à multidão alegre pela conquista da vaga no vestibular. Lembro do nosso banho de chuva, como na música: "do calor da minha pele, da língua tua" e das palavras fáceis que me encheram de dúvidas, criaram esperanças, acenderam uma luzinha no fim do túnel em meio aquele fundo de poço em que eu me encontrava. Depois as palavras foram desmentidas, jamais explicadas, os convites cancelados, a discussão no balcão do bar, a embriaguez e o perdão. A gente só queria aproveitar a vida, a explosão de hormônios, a química dos nossos corpos e a atração incontrolável, que quase fomos descobertos nos porões da universidade, escondidos na calada da noite para poder se curtir um pouco à sós. Mil encontros que não deram certo, sempre acontecia alguma coisa e daí a gente desistia, largava de mão um do outro até se esbarrar numa noite de rock e bebida para começar tudo outra vez. Era se enxergar para se agarrar, no elevador, na festinha no apê, no canto escuro da boate. O tempo passou e as coisas foram mudando, responsabilidades aumentando, a faculdade terminou, vieram os relacionamentos sérios, tanto para mim quanto para ele, a traição em pensamento e por mensagem online porque, mesmo à distância, a gente não se resistia. O destino me levou para perto outra vez, mas daí a gente tinha trabalho, mais estudos, amigos, aluguel e mais mil coisas pra cuidar que pouco sobrava tempo pra nos falarmos, tu passou por cima de tudo pra me ver e foi demais, porque cada encontro era como se fosse o primeiro, tamanha era a saudade e o quanto a gente se curtia. Já não tens mais os olhos de menino de antes. Agora teus olhos são maduros e focados em teus objetivos. Nem eu sou a mesma doidinha e brava de outrora. Essa novela já dura anos. Não teve começo, meio ou fim, nada dentro dos conformes, nada oficial, segredos sussurrados, brigas, reconciliações, "tempos", como qualquer relacionamento normal, mas que de normal não tem nada, nem sequer é um relacionamento. O que somos? Não sei. O que nisso vai dar? Sei menos ainda. Só sei que é bom ter você por perto e é isso que importa.

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