segunda-feira, 6 de abril de 2015

Remando

E de repente, em meio ao expediente, eu decido me desconectar do mundo, dos assuntos de trabalho, das conversas fúteis das pessoas, das risadas sem graça porque aqui ninguém sorri de verdade, ninguém ao menos é alguém de verdade, pois o ambiente te exige uma postura e uma conduta de acordo. Então eu me fecho e me recuso a socializar com gente que não me acrescenta, preferindo mil vezes e sem hesitar as canções previamente escolhidas e que tocam, uma a uma, nos fones de ouvido. Se achamos que o mundo evoluiu, que a espécie humana evoluiu, afirmo que foi só aparência. Antes o homem corria livre por um mundo limpo, fugia apenas de feras que poderiam o tornar uma presa. Hoje vivemos mais acuados do que nunca, vivendo a ilusão da liberdade enquanto andamos em carros blindados e casas gradeadas, com um olho à frente e o outro à volta, sempre preparados para correr, não de uma fera, mas de outro ser humano como nós que decide atacar, roubar, machucar. E em meio às loucuras e odores desse mundo louco e frenético, cada vez me recolho mais, talvez à minha insignificância. Quando observo um gesto de amor, é uma grande surpresa, quando deveria ser a regra. Me afasto das pessoas que amo justamente por saber que um dia vou perde-las ou elas vão me perder e para evitar sofrimentos maiores, fico longe, observo, torço pela felicidade delas e rezo. Rezo porque não há salvação diante de olhos humanos e as estatísticas só pioram. E cada dia é uma luta diferente, é a convivência com a incerteza de voltar pra casa e de que as pessoas que eu amo também vão chegar.

3 comentários:

  1. Olá! Estava navegando e entrei aqui na sua casa. Acho que foi uma ideia boa. Você tem uma escrita bem objetiva, clara e elucidativa. Hummm, isto não quer dizer que concordo, mas vejo pontos interessantes. Olha só, eu lerei as outras postagens. Não prometo nada, mas lerei, afinal você escreve aqui para isto, para que seja lido, talvez que não seja comentado, mas é bom a gente saber que tem pessoas que escrevem o que pensam.
    Não tem aqui seu perfil, seu nome, nada - gostei disto - é interessante. Nomes costumam encerrar os fatos.
    Mas um abraço pelo seu prazer de escrever.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Seja muito bem vindo, Paulo. Sinta-se a vontade para conhecer a passageira sombria! A porta está aberta para você!

      Excluir
    2. Obrigado pela atenção. Também sou um passageiro sombrio nesta cápsula do tempo chamada vida. Um abraço. Adorei encontrar você aqui, nesta condução virtual.

      Excluir