segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Fera

E teus olhos febris ainda me atingem naquela foto de sorriso enigmático, que esconde um lado teu que talvez só eu tenha conhecido e ainda conheça, e que não mudou com o passar desses anos todos. Teu passageiro sombrio sabe perfeitamente quem sou e do que sou capaz e tu o escondes, assim como eu, atrás de uma fachada politicamente correta, uma máscara de bons cidadãos, cumpridores das leis, com relacionamentos estáveis e profissões sólidas, ambição controlada e impostos pagos sem reclamar. Mas a minha passageira sombria sabe o que tu escondes embaixo desse uniforme, e o deseja e sente teu gosto na boca só de fechar os olhos, e tu tanto a decifras que ela se expõe pra ti, unicamente a ti. E eu preciso manter ela sob controle, preciso manter minha vida correta, que me sustenta e sustenta esse mundo colorido em que vivo. Mas as vezes... as vezes a fera se solta e nem que seja em pensamento eu me mostro pra ti, nua de alma, despindo a obrigação de fazer tudo certa e evidencio o que tenho de pior para uns e de melhor para outros. Me exponho, minhas fragilidades e minhas decadências, meu desejo doentio por um gole e uma tragada a mais... tudo numa busca frenética de relaxar profundamente, como nada no mundo o faz! Vou fechar os olhos e tentar dormir, acorrentar esse monstro que vive dentro de mim e que sente profundamente a tua falta

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