segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Confinada

Estou fechando as portas e as janelas, cobrindo todas as entradas de luz e a mobília. Sei que tudo vai ficar trancado e fechado, sem vida, mas mesmo assim quero preservar as velharias longe do pó que vai se acumular com os dias. Estou indo para talvez não mais voltar. Fechando o coração, quem entrou, entrou, quem não entrou, não entra mais. Estou cansada de mim mesma, dos meus dramas diários, dessa vida que perdi o controle. Vou para onde eu seja só mais uma na multidão, estou me vendo de fora: cara fechada, sorrisos amarelos, abraços leves. Quero o isolamento emocional, não quero mais lágrimas. Tomei uma anestesia contra todos os males. A dor humana não me comove mais, o amor não existe, as pessoas só ficam perto umas das outras porque sempre há o que se oferecer e obter. Quero caminhar pelas ruas escuras e me misturar à escuridão. Quero passar despercebida, invisível aos olhos de todos, dando o mínimo de mim, aceitando uma vida sem ambições. Porque quem não sonha, não sofre e não se decepciona. Estou sentada dentro do meu casulo e vejo o mundo girando, girando, sem parar. A vida vai continuar lá fora, seguirão acontecendo crimes, mortes, catástrofes naturais, o futebol para encobrir isso tudo e dar um pouco de circo ao povo. Mas aqui dentro será diferente. Quero tudo estático como a água de um poço, não quero vendavais nem fortes emoções. Acabei de cobrir os espaços que faltavam: agora nada mais me atinge. Nada me toca. Aqui dentro CDs velhos e cigarro, um filme brega na televisão, sem internet e alguns livros para me distrair, cadernos para escrever. Um gato para quebrar o silêncio e uma boneca pra aliviar meu desejo de ser mãe. Comida congelada na geladeira, celular que não toca. Do trabalho para casa, de casa para o trabalho, num caminho fácil de não se perder. É como se eu estivesse morta, mas meu corpo seguisse andando e fazendo as coisas de forma automática. É isso, liguei o piloto automático. Não quero ninguém aqui, nada de pessoas efusivas, festas e barulho. Fechei minha vida para o mundo. E que tudo se acabe lá fora que eu não tô nem aí...

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