sábado, 7 de abril de 2012

Um casal de campanha



Cumpri todos os afazeres da querência, que me cabiam fazer: ovelhas presas no brete, ovos recolhidos no galinheiro, horta irrigada, a talha cheia de água, pintos presos, porcos alimentados, as labaredas aquecendo o fogão, cachorros soltos na volta da casa. Quando a tarde vai caindo sobre o rancho, esquento a água e deixo o mate pronto, tomo um banho e me perfumo de alfazema. Aos poucos vou ouvindo ao longe o galopear do pingo, trazendo sobre o lombo o patrão, o dono da casa, o provedor do lar. Ele chega com a expressão cansada, corpo suado, bombachas sujas. Com os mesmos trejeitos de sempre, vai tirando o chapéu e pendura na parede, o rebenque fica no mesmo prego, as botas no piso contra porta. Me dá um "boa tarde" tímido e me olha de canto, desabotoando a camisa e não se aproxima de mim antes de tomar um banho. Sai do banheiro perfumado, arrastando as alpargatas, de barba feita e cabelo penteado. Me puxa pela mão num golpe só, eu me levanto e ele me agarra na cintura, me abraça, me cheira e me beija, com os olhos cerrados, respirando fundo, sentindo o cheiro dos meus cabelos, da minha pele. Puxa a banca e senta ao meu lado, sirvo o mate e ele toma, descansado. Me fala da lida do campo, das vacas que foram banhadas, das ovelhas tosquiadas e do sol quente que castigou sua pele a tarde toda. Conto pra ele da lida da casa, do bolo e dos pães que estão prontos na bacia, do charque que ajeitei e deixei salgando na gamela. Depois do amargo, puxo as panelas para o centro do fogão, aquento a janta e sirvo o prato - que ele come saboreando, quase de olhos fechados, sempre elogiando meu esforço e meu tempero, que é só um: amor. Lavo os pratos enquanto ele apaga o fogo do fogão e vai trancando as portas, larga o cobertor sobre a cama e se aconchega. Apago as luzes e deito ao lado do meu amado, sinto suas mãos ásperas da lida tocando minha pele - e toda sua rudez se desmancha em afagos, fazendo da cama nosso leito.  

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