domingo, 4 de novembro de 2012

Partidas

E de repente eu me vi ali, sentada, ou melhor, atirada no sofá, um copo de cerveja americana cheio e muitas latas vazias no chão, um cinzeiro derramando tocos de cigarro pra fora e eu finalizando o que seria a terceira carteira do dia, com mais um prego do caixão aceso, entre os dedos, na maior melancolia. Descobri que dentro de mim ainda moram os sonhos de menina, aqueles que eu pensei que tinham se perdido com o tempo em meio a tantas decepções. Mas o fato destes sonhos estarem tão vivos e acesos quanto antes me coloca numa posição de ter que concretiza-los por bem ou por mal, para me autorrealizar. Ter sonhos é ter motivação para viver, mas os meus só me deixam deprimida. Era bem mais fácil ontem, quando eu estava feliz e bem resolvida com a ideia de ser solteira para sempre e nunca ter filhos, pois eu acredito que o mundo esteja cheio demais. Meus sonhos me colocam na dependência de encontrar uma pessoa que queira as mesmas coisas que eu, construir um lar, uma nova família, me dar seu sobrenome e filhos lindos e bem criados, porque eu sei que os criarei muito bem. Estes malditos sonhos são tão românticos e à moda antiga que eu diria que são quase impossíveis de se realizarem. Fui preparada durante uma vida inteira para ser uma esposa exemplar, submissa, parceira, companheira, passiva, amante, apaixonada, mas não é isso que a sociedade moderna exige das mulheres de hoje. Ela exige exatamente aquilo que sou neste momento: uma mulher independente, profissional, que ama o que faz e recebe bem por isso, mora sozinha e só pensa em aproveitar a vida, fazer pós-graduação, mestrado, doutorado... Muitos farão chacotas e dirão que devo procurar um analista, quando eu disser que, no fundo, ser assim não me satisfaz, não me completa diante de minhas vontades mais profundas. Nasci para amar, como boa pisciana, aquelas mulheres em que a vida é o casamento. Mas não se fazem mais homens como antigamente. Os homens de hoje estão tão acostumados com a liberdade que não querem se prender à fidelidade exigida para que uma relação seja duradoura e estável. Esse tipo de coisa é considerada sem graça hoje em dia. E então, me peguei aqui, pensando sobre tudo isso e sem ter uma conclusão precisa, condenada talvez a uma vida de reflexão e de andar conforme as ondas, conforme a maré que a vida vai proporcionar e conviver com o que ela vai ou não trazer. Mas isso é pouco para mim, quero muito mais e este querer só me faz sofrer. No mais, estou indo embora baby, lá para os anos 20.

Um comentário:

  1. Estamos sincronizadas hoje, Brubs, tava pensando em coisas parecidas ainda agora...

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