quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não sonhe

Quando crianças, temos muitos sonhos, que vão até o infinito: eu quis ser aeromoça, médica, advogada, juíza, quis ser mãe, casar na igreja, ter uma casinha toda bonitinha. Depois me permiti ir mais além porque sonhar ainda não custava nada. Então comecei a sonhar em passar a vida conhecendo lugares novos, ouvindo todas as canções, frequentando todos os bares e provando todas as bebidas, comidas e quantas bocas quisesse beijar, porque eu nunca fui o tipo de pessoa que se preocupa com o que os outros vão pensar. Queria viver livremente pelo mundo, conhecendo pessoas e escrevendo sobre suas lutas, folheando livros em bibliotecas tão grandes que meus olhos seriam incapazes de enxarga-las na totalidade. Quis me conectar com o Universo, me sentir parte dele, aprender a meditar, a fazer viagens astrais, estar sempre em contato com a natureza porque só assim renovamos as energias e tomamos fôlego para continuar. Quis transcender a mim mesma mesmo que para isso fosse necessário recorrer a substâncias que nem sempre são lícitas e aí me pergunto: o que e quem define o que é ou não é lícito? Porque um remédio tarja preta, cigarro e bebida são liberados e outras coisas até bem menos nocivas não são? Foi então que meus lindos sonhos foram barrados pela dura realidade. Tudo que eu sonhei requer dinheiro e dinheiro não nasce em árvore, nem se consegue fácil. Então se não posso realizar meus sonhos, pra que sonhar? Hoje não planejo mais nada. E aquela ideia de que quando a gente fosse adulto saberia como resolver tudo e que teríamos vidas estáveis e confortáveis também não passou de ilusão. Tenho 31 anos e não sei o que eu quero da minha vida. Então, matem seus sonhos o quanto antes, pois a desilusão dói mais que a desesperança (que só te deixa apático na maior parte das vezes). E aí você vira um robô como todos os outros: acorda, trabalha, assiste TV, dorme de novo. Até faz uma ou outra coisa diferente, mas nada tão empolgante, nada que te faça sentir vivo, que dê a sensação de que a vida vale a pena. Na maioria do tempo você se preocupa com tudo, principalmente em ter dinheiro para o básico: ter o que comer e onde dormir. Então aguenta toneladas de pressões para não perder o emprego, não perder o casamento, não destruir relações com pessoas que você ama. Alguns ainda tem ânimo para estudar, querer aprender alguma coisa e de preferência até ganhar um dinheiro com isso. Mas no final do dia você só reza pra dormir bem. Pra que nada de inesperado aconteça. Reza pra que a morte não te arranque pedaços. Mas eu não disse antes que a gente vira robô? Sim, só não conseguimos nos livrar dos sentimentos ainda. 

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